Fotografia
para Principiantes
Fotografar é uma palavra que vem de dois termos gregos, "photos"
e "grafo", que significam "luz" e
"escrever": portanto, fotografar que dizer escrever com luz,
isto é, reproduzir imagens de coisas que existem através de um processo
complicado. A criação de uma fotografia deve-se a dois fenômenos
distintos: um de caráter óptico e outro de natureza química.
O fenômeno óptico é conhecido pelo nome de princípio da câmera
escura, que Leonardo da Vinci descreveu há muitos séculos. Segundo este
princípio, um imagem que através de um pequeno furo, entra dentro de um
paralelepípedo sem luz, reproduz-se virada e invertida, isto é, a parte
de cima aparece em baixo e a esquerda passa à direita. Dentro de todas as
máquinas fotográficas existe então uma câmara escura em miniatura, que
fixa a imagem do sujeito que se quer fotografar sobre uma fita constituída
por muitos fotogramas e composta por muitas substâncias plásticas
especiais, acetato e nitrato de celulose.
Essa fita, que é a película, será depois revelada para imprimir
fotografias.
Uma máquina fotográfica é constituída por várias partes; a câmera
escura, a objectiva, o diafragma e o obturador são as partes essenciais,
mas as máquinas modernas, construídas com técnicas aperfeiçoadas e
muito avançadas, são muito complexas e valem-se de vários acessórios,
como por exemplo o fotômetro, que permite medir a intensidade da luz no
momento da pose e a teleobjetiva, para fotografar a grandes distâncias.
Hoje também é muito usado o flash que permite tirar fotografias
em ambientes sem luz ou pouco iluminados. LUZ
A luz é a matéria básica da fotografia. Afeta os aspectos
funcionais como as partes claras ou escuras da imagem e a velocidade do
obturador que se pode utilizar. Afeta igualmente a imagem em aspectos que
não são tão fáceis de identificar o modo como o objeto se evidencia do
plano de fundo, ou do ambiente em geral criado pela fotografia.
A imagem fotográfica é criada pela luz projetada através da
objetiva sobre a película sensível. A quantidade de luz é muito
importante; se for excessiva, a imagem ficará pouco densa e deslavada; se
for reduzida, ficará escura e pouco definida. A quantidade de luz que
atinge a superfície sensível e regulada de dois modos dentro da máquina
fotográfica: pelo diâmetro da abertura da objetiva e pelo tempo em que o
obturador fica aberto. A abertura da objetiva é maior ou menor, consoante
o ajuste de um conjunto de lâminas. A velocidade do obturador pode
variar, desde uma pequena fração de segundos a alguns segundos. Quando a
luminosidade da cena é medida com um
fotômetro, de que dispõem quase todas as máquinas fotográficas,
é possível ajustar a melhor combinação entre abertura e velocidade do
obturador. As máquinas fotográficas de um modo em geral, fazem isto
automaticamente, dando como resultado uma fotografia que não tem luz a
mais nem a menos.
A primeira vista, este tipo de automatismo pode parecer a resposta
perfeita as complicações do cálculo de ajustes e à possibilidade de
cometer erros. É ,de fato, assim, na maior parte das situações, mas a
infinita variedade de condições de iluminação significa que acontece
por vezes não se obter a imagem que se imaginou. Isto pode ocorrer, por
exemplo, com silhuetas, fotografias em contraluz ou com delicados tons
pôr-do-sol. A maquina fotográfica funciona segundo programas muito
simples, enquanto a boa fotografia implica imaginação e opção pessoal.
Por este motivo, as máquinas fotográficas mais aperfeiçoadas dão
maiores possibilidades de escolha quanto aos ajustes da abertura e do
obturador. Algumas fazem-no na forma de diferentes "programas"
automáticos; outras, permitindo que o fotógrafo proceda manualmente aos
respectivos ajustes. Isto obriga a um maior conhecimento a respeito da luz
e da máquina fotográfica, mas é a única maneira de exercer total
controle sobre as fotografias.
A quantidade de luz varia mais do que a generalidade das pessoas
pensa. A diferença entre exteriores bem iluminados com a luz do sol e os
interiores num dia escuro é da ordem de 500 vezes. Para responder a esta
situação, a abertura da objetiva e as velocidades do obturador devem
também variar em larga medida, afetando cada um destes elementos outras
coisa além das quantidades de luz. Quando a abertura da objetiva está
com o máximo de diâmetro, nem toda a imagem parecerá completamente nítida;
a nitidez situa-se numa faixa conhecida como profundidade de campo, e que
depende do ponto para onde se foca. Quanto menor for a abertura, maior será
a profundidade de campo; de modo que, se fotografamos uma cena que têm
planos próximos e fundos distantes, e pretendemos que tudo fique nítido,
é preciso que a abertura seja pequena.
Se a abertura for pequena, e a luz não for
muito intensa, a velocidade do obturador terá de ser lenta. Isto
influencia a forma pela qual as imagens em movimento ficam registradas na
imagem: se a velocidade não for suficientemente rápida, a fotografia
ficará 'tremida". Com velocidades lentas, não se pode manter
completamente segura nas mãos a máquina fotográfica com velocidade mais
demoradas do que 1/60s (para o objetiva normal). CLARO
E ESCURO
A mediação da luz é efetuada
com o fotômetro. Atualmente todas as máquinas fotográficas estão
equipadas com fotômetros, que fazem a "leitura"
através da objetiva. A idéia é fácil de compreender: a exposição(ou
os controles, se o aparelho for totalmente automático) sugerida pelo fotômetro produzirá uma fotografia que não
é escura nem clara, mas entre as duas situações.
É a isto que se chama exposição "normal" - todos os
tons médios da cena são traduzidos por cinzentos na fotografia a preto e
branco. Na fotografia a cores acontece o mesmo, exceto em que os cinzentos
médios podem ser vermelhos-médios, azuis médios, e coisa semelhante. Na
máquina fotográfica com fotômetro acoplado a regulação da exposição
reduz-se a isto. Logo que se ajusta a sensibilidade correta no aparelho, a
generalidade das imagens será registrada como fotografias de tons
normais, isto é, como
aproximadamente aparecem na vida real. Se uma nuvem passar diante do sol e
se se reduzir o nível da intensidade luminosa, o fotômetro reage e
aumenta a exposição para compensar o efeito.
Há no entanto, um óbice. É que os fotômetros são concebidos
para reagiram a partir do princípio de que todas as cenas contêm uma
faixa completa de tons, desde o negro puro ao branco-brilhante, o que não
é verdade. Por exemplo, uma paisagem com neve não pode conter quaisquer
zonas escuras, ao passo que a imagem obtida a pequena distância de um
gato preto só conterá zonas escuras. Apesar disso, o fotômetro reagirá
a duas situações de modo semelhante: parte do princípio de que em cada
caso está presente um faixa completa de tons, pelo que conclui que o tom
normal que vê é o cinzento médio. As exposições determinadas pelo fotômetro
darão como resultado que os montículos de neve e gelo terão a mesma
sombra.
Este tipo de situação pode complicar-se consoante o modo como o
objeto for iluminado, o problema mais corrente quanto a exposição é a
iluminação em contraluz, em que a luz se dirige no sentido da máquina
fotográfica. Se o fundo for claro (céu azul-claro, por exemplo), a
composição ficará com as imagens em silhueta. Como o fotômetro tópico
da máquina fotográfica faz a mediação sobre o conjunto da imagem,
obterá a média entre o fundo claro e o objeto relativamente escuro. O
resultado dependerá das proporções de cada um destes, mas uma coisa é
certa: o objeto ficará escuro, e se ele for um retrato, provavelmente
obter-se-á uma fotografia falhada. A resposta a este tipo de problema
quanto à exposição é, como veremos nas páginas seguintes, usar a própria
apreciação pessoal em vez de se confiar no fotômetro.
Não devemos encarar as informações dadas pelo fotômetro como
absolutas, mas como indicadores ou guias de orientação. Como
Usar a Exposição
Há duas situações em que a simples medição efetuada pelo fotômetro
através da objetiva fotográfica não dará bons resultados. Uma, como
vimos na última página, é quando a leitura geral (ou média) de toda a
cena produzirá resultados incorretos. Outra, é quando o fotógrafo,
apenas por gosto pessoal, prefere um diferente equilíbrio de zonas claras
e escuras. É por isso que só um pequeno número de fotógrafos
profissionais confia exclusivamente no fotômetro.
É possível resolver o problema das condições da exposição
classificando-a num certo número de tipos, mas o perigo aqui reside em
sobrecarregar a memória com uma lista de hipóteses de cada vez que se
fotografa. O método para atuar consiste em olhar para a imagem através
do visor e decidir logo se ela deve ficar mais escura ou mais clara do que
o tom médio. Se o objeto tiver de parecer escuro, como a pele escura, ou
claro, como uma casa rústica pintada de branco, deve regular-se ao
ajuste da exposição de acordo com a situação.
Grande número de máquinas fotográficas compactas são automáticas,
que a exposição não permite que seja alterada à vontade; e deste modo,
se se tiver um destes modelos, pouco se poderá fazer para por de lado os
problemas potenciais e possivelmente enquadrar de novo a imagem, para que
não fique demasiado clara ou demasiado escura. Contudo, comas máquinas
mais aperfeiçoadas do tipo SLR, é possível ajustar a exposição e
desprezar o fotômetro acoplado. Muitas máquinas deste tipo possuem
ajuste de compensação para tornar a imagem mais clara ou mais escura;
mas se a nossa não tiver tal possibilidade, há que alterar a abertura
para reduzir a exposição com um objeto naturalmente escuro, e aumentá-la
com outro naturalmente claro. A quantidade variará, mas como regra
aproximada pode estabelecer-se que o objeto branco precisará de uma
abertura que o objeto branco precisará de uma abertura com cerca de mais
de dois pontos de diafragma; o objeto negro exigirá cerca de dois pontos
menos.
Tudo isso pressupõem que se pretende expor
"corretamente", isto é, o que registra tal cena tal como ela
parece ser. A fotografia, no entanto, está cheia de oportunidades para
criar imagens que fiquem para lá da documentação pura e simples do que
ela representa.
A imagem sobreexposta não tem forçosamente de ser considerada um
erro; os tons com pouca intensidade e as dominantes de tipo pastel que
tantas vezes ocorrem, podem ser interessantes em si próprias, produzindo
fotografias muito delicadas. No lado oposto, a subexposição voluntária
para obter uma imagem escura pode originar um ambiente misterioso e
chocante, ou possibilitar que fiquem apenas algumas zonas iluminadas no
quadro escuro. A decisão aqui é do fotógrafo.
Ainda que se despreze a leitura do fotômetro, mantém-se o
problema da exposição correta. A apreciação sobre a obtenção do
efeito que se pretende obter, em relação com a abertura ou a velocidade
do obturador, é uma habilidade que só se adquirirá com a prática:
quanto mais fotografias se fizerem, mais válidas serão as avaliações.
A própria película sensível permite alguma margem de erro, embora não
muita. O erro de um ou de até dois pontos de diafragma na fotografia com
película negativa a preto e branco ou a cores não é um desastre; mas
com os diapositivos a exposição correta tem de ser da ordem de mais ou
menos meio ponto. COMPOSIÇÃO
É tão fácil fotografar, especialmente com as máquinas fotográficas
automáticas, que não é difícil cair em maus hábitos - ou até nunca
adquirir bons. A expressão aponte e dispare" usada para fotocâmaras
populares e sem complicações, resume o problema da idéia de que
tudo o que é preciso para obter a fotografia consiste em apontar a máquina
e premir o botão disparador. Seria como disparar uma espingarda para um
alvo: se conseguirmos enquadrar o objeto no meio do visor (o que não
apresenta dificuldade, obteremos uma boa fotografia.
Se se necessitasse apenas de técnica em fotografia, esta daria
pouco prazer. Obviamente é preciso muito mais para criar uma imagem
fotográfica. Além da máquina fotográfica e da objetiva, e ainda da
vista, existem apreciáveis diferenças no que se pode fazer com a imagem
por simples alteração das posições das coisas dentro do enquadramento.
A composição consiste essencialmente no seguinte: arte de organizar as
formas, as linhas, os tons e as cores dentro do retângulo do visor. Isto,
mais do que outra coisa qualquer, distingue o fotógrafo competente do
amador ocasional.
Nas páginas que se seguem trataremos das especificidades na composição da fotografia, separando a imagem nas suas
partes essenciais: pontos, linhas, formas, e os modos pelos quais ase unem
para constituir coisas, dividindo-as, ou dirigindo os olhos de uma parte
da imagem para outra. Contudo, antes de fazer isso, há três maneiras (
simples mas importantes) de abordar como se fotografa.
A primeira é pensar sempre no enquadramento da imagem - um retângulo
em que, para os praticantes do 35 mm, a altura é um
pouco mais de metade do comprimento. Não devemos esquecer isto
quando os olhos observam uma cena: há que imaginar como as diversas
partes ficarão incluídas na imagem ou serão cortadas num dos lados. É
fácil prestar mais atenção à cena não enquadrada que está diante de
nós do que a imagem delimitada que iremos fotografar.
A segunda maneira de ver as coisas é converte-las - de novo, na
nossa imaginação - de três dimensões em duas. A fotografia é uma
imagem plana, e distâncias que podem parecer evidentes na vida real podem
não ser assim na fotografia ou no diapositivo. O sentido da perspectiva dá-nos
uma maneira especial de ver as coisas e de as relacionar umas com as
outras. Isto ocorre de modo diferente a duas dimensões, como se verá nas
páginas seguintes.
Finalmente, sempre que possível, devemos preparar tudo com
cuidado.
Se fizéssemos uma pintura certamente estudaríamos
a disposição das coisas, e talvez fizéssemos algumas correções
antes de começarmos a pintar. Porque a fotocâmara atua muito mais
rapidamente, não há motivo para compor também com rapidez. Há
momentos, e isto é uma evidência, em que temos de disparar sem demoras,
mas há muitos mais que permitem pensar antes.
Devemos encarar a imagem do visor como algo que merece cuidado e
esforço, e o resultado da fotografia mostrará regra geral que foi essa a
nossa maneira sensata de proceder. A
ESCOLHA DO TEMA
A escolha do tema a fotografar pode parecer à primeira vista ter
um pouco a ver com composição. No caso de um retrato, por exemplo, o
tema é obviamente a pessoa, e as escolhas fazem-se em larga medida com o
ambiente envolvente. Isto porém não é sempre assim; na verdade, a situação
mais comum acontece quando o fotógrafo anda à procura de algo para
fotografar - a idéia surge antes do objeto concreto.
Nestas condições, a vista - isto é, a possível fotografia -
pode ser de caráter geral: uma cena de rua na cidade, ou uma paisagem.
Sem qualquer ponto de interesse evidente, a escolha do tema torna-se
livre. Com muita frequência o tema real da fotografia é o que
inicialmente impressionou os olhos do fotógrafo o que nem sempre é
evidente.
Na paisagem por exemplo, é-se tentando a pensar que o tema
constituído por toda a cena, mas o que em geral acontece é uma ou duas
coisas constituírem o centro da atenção. O tema real pode ser o modo
como a luz incide em certa zona de imagem, ou a disposição e a cor das
nuvens. O tipo de decisão aqui se faz importante da composição: se
decidirmos que uma característica da imagem é o tema em si, o local onde
o colocamos no enquadramento, e a forma pela qual utilizamos outros
elementos como as linhas em relação a ele, tudo isso terá a sua importância
própria. Por exemplo, se o céu, devido à cor que irradia ou a forma das
nuvens, é mais atraente do que a paisagem que fica por baixo, terá
justificação na maior parte dos casos inclinar a fotocâmara de modo que
a linha do horizonte fique baixa. Isto parece evidente, e ser-lo-á se
pensarmos um pouco nas prioridades da imagem, mas é muitas vezes
desprezado porque o fotógrafo tem grande pressa em premir o disparador, não
dando a composição da imagem a atenção que merece.
Há certa dose de lógica na maioria das fotografias que nos
parecem bem compostas. O que implica saber exatamente o que nos atrai numa
vista e dominar a maneira de o passar para a composição, tão
perfeitamente quanto o possível. Embora esta não seja a única forma de
abordar a composição das imagens fotográficas (há alturas em que é
mais interessante efetuar uma composição inesperada, e que não se
integre em nossos modelos habituais, de modo que o observador veja as
coisas lentamente), ela resulta sempre. PONTOS,
LINHAS E FORMAS
Uma das coisas que se verificam quando uma cena real se converte em
fotografia é que os objetos se tornam formas e os seus contornos passam a
ser linhas; se muito pequenos na imagem, ficam como pontos.
Estas três coisas (pontos, linhas e formas) constituem os blocos
essenciais de qualquer imagem (a cor também, mas veremos isso daqui a
pouco). Só existem na imagem plana, como os desenhos e as fotografias,
mas são eles que essencialmente fazem a imagem.
Por outro lado, há ainda as cores do objeto, mas estas têm uma
vida própria na imagem. Dizendo de outro modo: se a fotografia foi
efetuada de maneira que não podemos facilmente dar realce ao tema (uma
imagem abstrata) a disposição dos pontos, linhas e formas continua a ser
fundamental. Em especial, os efeitos produzidos pelas linhas dependem do
retrospectivo ângulo e da localização em que se encontram no
enquadramento. O conhecimento de alguns destes efeitos contribui para a
composição.
O ponto é a mais simples marca visível numa folha de papel ou
numa fotografia. Quando isolado atrai a prende a atenção, pelo que a sua
posição na imagem é mais importante. O tipo mais evidente de ponto na
fotografia é um pequeno objeto dentro de um conjunto vasto; um barco no
mar visto a grande distância, ou um pássaro no céu. Se a imagem se compõem
disso apenas, o ponto atua como um imã para os olhos. Se porém houver
dois pontos, concorrem ambos na atenção, e os olhos deslocam-se de um
para outro. Nas fotografias com muitos objetos os pontos atuam com menos
insistência, mas raramente estão ausentes. As diferenças nas luzes e
nas cores podem produzir pontos - por exemplo, uma janela de cores vivas
na parede. Os rostos à distância podem também atrair a atenção.
As linhas podem ser retas, curvas ou em ziguezague. As retas podem
ser horizontais ou em diagonal. As horizontais dão uma sensação de
estabilidade e dirigem os olhos para a direção mais natural - de lado a
lado. As verticais exprimem maior energia e podem por vezes deter os
olhos, ao passo que as diagonais dão uma maior sensação de movimento;
produzem certa idéia de perspectiva, deslocando-se na distância ou para
longe do primeiro plano, dando mais vida à fotografia. As linhas curvas têm
algo deste movimento, e originam também uma sensação de deslize suave.
As linhas irregulares são muito atraentes e podem dar à imagem uma sensação
de forte energia.
As linhas delimitam as formas e estas contribuem para delimitar ou
dividir a composição. A forma mais simples é o triângulo, e quase
sempre basta apenas sugeri-lo como três pontos perceptíveis - para se
tornar evidente. Outras formas vulgares são os retângulos, os círculos
e as elipses.
Na cena enquadrada o predomínio de uma forma simples é uma das técnicas
mais fáceis de fazer com que a imagem pareça organizada e unificada
correspondendo a uma construção harmônica. A
COR
As cores têm na fotografia um encanto que não pode ser comparado
a outros elementos gráficos como as linhas e os tons. Uma forma ou um
desenho geométrico podem ser interessantes e atraentes, mas as cores
causam impressão mais profunda. Embora sejam os olhos a ver cores, a sua
percepção é muito subjetiva. Se isto parecer fantasioso, pensemos nas
reações causadas por duas salas pintadas com cores diferentes, uma de
azul forte e outra de alaranjado. Para a maior parte das pessoas a sala
azul daria uma sensação mais fria (o que já foi confirmado
experimentalmente). Associado a este tipo de reação está o fato de
algumas cores agradarem ou desagradarem. Isto precisamente porque as reações
são individuais, todos crescemos associando certas cores a determinadas
coisas e experiências; algumas agradáveis e outras agradáveis.
As cores, seja qual for a apreciação que se fizer, têm o
potencial de dar força a uma imagem, se o fotógrafo tiver capacidade
para tal. Esta capacidade, como muitas técnicas de composição referidas
no último capítulo, passa por uma seleção de fotografia; encontrar
determinadas cores ou combinações de cores e depois concentrá-las ou
distribuí-las de modo a ocuparem na composição o devido espaço e
importância. As duas técnicas
habituais consistem no posicionamento da fotocâmara ou na alteração da
distância focal. Além disso, as cores podem ser alteradas em certa
medida. Os filtros coloridos produzem uma dominante geral (pelo que devem
ser fracos, ou o efeito parecerá falso), ao passo que os filtros de
densidade variável afetam apenas parte da imagem; uma utilização
habitual é a de alterar só a cor do céu. Os filtros polarizadores
intensificam certas cores, eliminando os reflexos que por vezes diluem
aquelas; um céu azul-claro, fotografado com um filtro polarizador e no ângulo
correto em relação ao sol, fica azul-escuro.
A iluminação dá também cor à cena. A escala da temperatura de
cor estende-se do vermelho ao azul, e está presente em qualquer luz de
ignição, desde a luz de vela à luz do sol. A luz artificial compõem-se
das suas cores próprias; a luz fluorescente é, em geral, verde; a do
vapor de mercúrio, azul-verde; a do vapor de sódio, amarela.
As cores são, tecnicamente falando, radiações eletromagnéticas
com determinado comprimento de onda e que os nossos olhos podem ver. As de
menor comprimento de onda são o violeta e as de maior são o vermelho. As
que se localizam entre estes extremos são mais ou menos as que vemos no
arco-íris ou na refração produzida por um prisma, que decompõem a luz
branca normal: o azul, o verde, o amarelo e o alaranjado. São as cores
puras do espectro e constituem a base de todas as outras cores que vemos.
As diluições e combinações de todas as cores do espectro visível
e a adição do preto produzem uma infinita variedade, dos castanhos e
ocres aos tons de pastel e metálico. As películas a cores registam-nas
como as vemos; com três camadas separadas, em que cada uma é sensível a
uma cor primária. Quando combinadas essas três camadas (uma das quais
reage ao vermelho, outra azul e outra ao verde) podem registar
praticamente qualquer cor. Preto
e Branco
O que se considerava a forma normal de fotografia é agora um meio
de expressão para os amadores especialmente
exigentes.
As películas e os papéis fotográficos a preto e branco cederam
rapidamente o passo ao aparecimento dos materiais a cores, sendo hoje
raros os laboratórios que revelam aqueles materiais sensíveis.
Se quisermos fotografar preto e branco, teremos, como regra, de
fazer todo o trabalho ou, pelo menos, as ampliações sobre papel, caso
desejemos obter a melhor qualidade.
Curiosamente porém, o preto e branco não deve ser encarado como
um parente pobre da fotografia a cores. Embora seja reduzido o número de
fotógrafos que utilizam este processo, nos últimos tempos o seu número
aumentou.
Não sendo já popular, o preto e branco tornou-se a opção dos
que se interessam pela fotografia como arte.
Há bons motivos para isso. Um deles, na ausência da cor, é a
variedade de cambiantes de preto, cinzento e branco e a composição. Por
vezes, com a película a cores, basta a presença de algumas cores claras
ou harmoniosas para que a fotografia resulte; as próprias cores fazem a
imagem e permitem que não se dê por quaisquer vulgaridades ou defeitos
na composição. Não se passa isso com preto e branco porque a composição
da imagem é menos complexa e merece por vezes uma observação mais
cuidadosa.
O segundo motivo é que os materiais a preto e branco permitem na
realidade mais possibilidade para alterar a imagem do que a película ou o
papel a cores. Há papéis com diferentes contrastes, desde o
cinzento-escuro ao preto e branco intensos, com diferentes texturas, desde
a brilhante à mate; é superfícies especiais que imitam a tela ou a
seda. E, embora se designe este tipo de
fotografia como preto e branco, há certa variedade de cambiantes,
desde o frio( com um toque de azul) ao quente(um pouco acastanhado); a
imersão das provas em diversas soluções possibilita uma maior escolha
de cores. Se se utilizarem filtros coloridos quando se fotografa, as cores
da cena podem ser alteradas na sua reprodução, por vezes
espetacularmente.
Talvez mais importante que tudo isso seja o fato da possibilidade
de obter maior variedade de imagens aceitáveis do negativo a preto e
branco do que o negativo a cores.
A grande popularidade da película a cores é devida a registar os
objetos aproximadamente como eles são; a maior parte das fotografias a
cores representa o que o fotógrafo realmente viu. Sob certos aspectos
isto é uma limitação e representa uma dificuldade para os fotógrafos
que desejam trabalhar a imagem, adaptando-a ao seu estilo próprio. A
fotografia a preto e branco permite, de fato, trabalhar bem um estilo próprio
- não só porque os materiais facilitem a tarefa, mas porque a prova a
preto e branco não é, à primeira vista, uma imagem realista.
Se se variar o papel, a revelação, e se se sombrearem diversas
partes da imagem na ampliação, é por vezes possível obter diversas
provas prontas totalmente diferentes (e todas aceitáveis) de um só
negativo. A
CIDADE E A NOITE
As cidades são um dos poucos temas fotográficos que melhor
resultam com pouca luz e a noite é quase sempre a melhor altura para se
fotografar. A concentração das luzes, especialmente no centro da cidade
ou à volta de edifícios públicos iluminados, produz uma imagem muito
diferente da obtida durante o dia. Não que todas as cidades deixem de ser
atraentes de dia, mas o ambiente iluminado artificialmente esconde o
desalinho dos pormenores citadinos. Além disso, o estado do tempo tem
pouca importância e, depois de lutamos sem êxito com
monotonia, com as cores desinteressantes dos dia cinzentos, o cair
da noite é um verdadeiro encanto.
Na verdade, a melhor altura para este tipo de fotografia é um
pouco antes do anoitecer completamente. O crepúsculo tardio, em que ainda
há alguma luz no céu, tem a vantagem de mostrar bastante dos edifícios
mais escuros e os respectivos contornos que se definem o panorama. Quando
se proporcionar, tentemos fazer um ensaio, estando preparados assim que o
sol se põe. Se esperarmos, podemos verificar quando há equilíbrio entre
a penumbra e as luzes artificiais da cidade. Se aguardarmos até que a
noite desça por completo, as luzes da cidade podem apresentar um efeito
demasiado regular.
Precaução importante na fotografia noturna e a de ter em atenção
o contraste entre as zonas bem iluminadas e as sombras. A iluminação
artificial não é uniforme, especialmente em áreas extensas, como as
ruas. Daqui resulta que a fotografia noturna apresenta por vezes manchas
de luz com áreas intermédias de sombra; e embora os olhos possam
compensar a observação de contrastes elevados de luz, isso não acontece
com a película fotográfica. Deve trabalhar-se fora do campo com muita
luz, e se pudermos aproximar-mos, ou mudar de ponto de vista de modo que a
luz pareça mais uniforme, tanto melhor. Sempre que possível, convém
evitar que as lâmpadas nuas apareçam na fotografia pois podem produzir
difusão luminosa.
A maior parte da iluminação artificial é muito mais fraca que a
iluminação natural, pelo que, em geral, é preciso combinar uma película
rápida com a velocidade de obturação lenta. Por exemplo, até uma área
da cidade com diversões, bem iluminada, fotografada com película ISSO
400, necessitará de exposições da ordem de 1/60s com f:4. Neste caso
tem de se utilizar uma fotocâmara que não dispare automaticamente a
unidade de luz de relâmpago quando a luz for fraca. Além desse
equipamento poderá ser necessário outro, q que depende do tipo de
fotografia noturna que se pretenda. Há que se fazer uma escolha básica
entre as fotografias efetuadas com um tripé e uma exposição demorada, e
as realizadas com a máquina na mão e película rápida. Se nos
interessarmos por cenas sem movimento, como edifícios e paisagens
citadinas, é preferível usar película de grão médio ou fino e tempos
de exposição de alguns segundos. O movimento do tráfego e das pessoas
ficará desfocado, mas as riscas das luzes dos automóveis podem aumentar
o interesse da imagem. Se a luz for insuficiente para permitir uma mediação
com o fotômetro, a tabela seguinte fornece uma indicação que servirá
de guia; convém efetuar fotografias escalonadas como segurança;
ISO 64-100
ISO 160-200 Ruas
iluminadas
½ - 1 segundo
¼ - ½ segundo normalmente
f: 2,8
f: 2,8 Edifícios
iluminados
½ segundo
¼ segundo por
projetores
f: 2,8
f: 2,8 Luzes
distantes
1 - 10 segundos
½ - 5 segundos da
cidade
f: 2,8
f: 2,8 Luzes
de automóveis
10 segundos
10 segundos em
movimento
f:
11 - f:16
f: 16 - f:22
Outro modo de proceder consiste em utilizar a película rápida
(ISO 1000 seria ideal) e, se tivermos várias objetivas, empregar a de
maior abertura. Isto é menos incômodo do que transportar o tripé dum
lado para o outro, e mais apropriado para lugares com movimento, mas as
imagens ficam com mais grão. Textos
do Livro Novo
Manual de Fotografia, Michael Freeman Editorial
Presença, Lisboa-Portugal 1988. ![]() |