Comitê
Estadual pela Verdade, Memória e
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Repressores
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Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvão
Livros
e Publicações
1964.
Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvão
Edições Clima
1994
Invasão
da Prefeitura
Pelas
21 horas ainda nos encontrávamos
no gabinete do prefeito. Era um pequeno
grupo em torno da mesa de Djalma, ouvindo
um rádio que transmitia raras notícias
e muitos dobrados militares. Conversava-se
sobre a crise, assuntos diversos e, principalmente,
sobre a ocupação militar nas
repartições federais.
Para conseguir passar na sede do correio
da Ribeira mais uma mensagem de Djalma ao
presidente João Goulart, tive de
enfrentar uma fila controlada por soldados
do Exército. O telegrafista que recebeu
a mensagem foi, em seguida, denunciado como
cúmplice daquele ato inútil,
uma vez que o telegrama foi apreendido e
não chegou a ser transmitido.
Djalma tentou uma última comunicação,
ignorando o desfecho dos acontecimentos,
pois, àquela hora, o presidente João
Goulart já estava deposto.
Pela janela do Salão Nobre da Prefeitura
víamos o Palácio do Governo,
a pouca distância, com todas as janelas
abertas e iluminadas. O governador, naquela
noite, rompia a neutralidade em que se encontrava
e divulgava sua adesão ao golpe militar.
Uma mensagem do governador Magalhães
Pinto, de Minas Gerais, principal articulador
civil do golpe militar, ajudou a definir
a posição política
do governador Aluízio Alves.
No gabinete do prefeito, isolados de qualquer
informação oficial, continuávamos
juntos, mas nada restava a fazer ou dizer.
Surpresos e assustados, ouvimos os passos
fortes e apressados de pessoas subindo as
escadas. Logo um oficial do Exército
chefiando uma patrulha composta por muitos
soldados empurrava, com um chute, a porta
lateral do gabinete. Apontando uma metralhadora
em nossa direção, o oficial
gritava, muito nervoso: “Acabou a
baderna. Pra fora, seus comunistas!”
Qualquer profissional das armas teme o confronto
com a metralhadora, nós éramos,
apenas pessoas comuns, sensíveis
e sem experiência com a violência.
Perplexos e paralisados, ficamos em silêncio.
Djalma ensaiou um passo em direção
ao militar, talvez tentasse um diálogo,
mas recuou. O líder sindical Evlim
Medeiros foi reconhecido pelo nervoso oficial,
preso e levado para as celas do 16°
RI. Foi ele o primeiro preso político
da ditadura militar no Rio Grande do Norte.
Sem alternativas, fomos saindo, sem palavras,
estonteados, cada um com o seu espanto e
o seu medo. Tivemos uma longa noite de insônia.
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