Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
Praxedes, um operário no
poder
Praxedes:
Um Operário no poder
A Insurreição de
1935 vista por dentro
Moacyr de Oliveira Filho
Editora Alfa-Omega,1985
Nosso
Projeto |
Mapa Natal 1935 | Mapa
RN 1935 | ABC
Insurreição | ABC
dos Indiciados | Personagens
1935 | Jornal
A Liberdade | Livros
| Textos
e Reflexões | Bibliografia
| Linha
do Tempo 1935 | Imagens
1935 | Audios
1935 | Vídeos
1935 | ABC
Pesquisadores | Equipe
de Produção
4.
O ingresso no PC do Brasil
Corria
o ano de 1926 e Praxedes trabalhava na Fábrica
de Calçados Xapim de Ouro, ao mesmo tempo
que prosseguia organizado o movimento operário
da cidade, discutindo com o pequeno grupo maximalista
e tentando neutralizar a influência crescente
de Café Filho nos sindicatos. Nesse ano,
A Nação publica uma notícia
sobre a preparação do I Congresso
das Classes Trabalhadoras, que seria realizado
no Rio de Janeiro, com o objetivo de organizar
a Confederação Geral dos Trabalhadores
do Brasil. A notícia entusiasma o grupo
de sapateiros de Natal. “Decidimos enviar
um delegado nosso ao Congresso. Nos cotizamos
e mandamos o sapateiro Arthur da Silva”
– conta Praxedes.
A participação
desse sapateiro no Congresso no Rio de Janeiro
foi decisiva para a organização
do Partido Comunista do Brasil entre os sapateiros
potiguares. No Congresso, Arthur toma contato
com o pessoal do partido e faz um relato do trabalho
desenvolvido pelo grupo da União dos Sapateiros.
As informações prestadas por Arthur
são encaminhadas a Cristiano Cordeiro,
um dos fundadores do partido e, na época,
seu secretário-geral, e decide-se enviar
um militante a Natal para organizar o grupo de
sapateiros.
Praxedes
relembra essa reunião: “Quem veio
a Natal foi o companheiro Lourenço Justino,
de Recife. No final de novembro ele faz uma reunião,
expôs a linha do partido, falou sobre a
necessidade de nos organizarmos nas empresas fundamentais,
do trabalho no campo entre os camponeses, nas
salinas de Macau, Mossoró e Areia Branca,
nos carnaubais, essas coisas todas. Dessa reunião
participaram seis pessoas: eu, Pedro Marinho,
Arthur da Silva, Aristides, José Pereira
e o José Claudino, o dono da casa. Todos
eram sapateiros. Ali fomos oficialmente admitidos
no Partido Comunista do Brasil e planejamos as
próximas tarefas. Com o tempo, o partido
foi crescendo, incorporando gente das docas, da
estiva, da Estrada de Ferro. Tomou vulto. Passamos
a recebera Classe Operária e a divulgá-la”.
Organizada
essa primeira célula do partido com o recrutamento
dos sapateiros que integravam o antigo que integravam
o antigo grupo maximilista, a atividade partidária
em Natal cresceu. “A direção
imediatamente nos mandou uma relação
de nomes que nós deveríamos procurar.
Além disso, o partido já estava
organizado também em Mossoró pela
família Reginaldo, liderada por Raimundo
Reginaldo”. Nessa época, os contatos
com a direção partidária
eram feitos por cartas e documentos enviados a
Natal pelos militantes marítimos do partido.
“Nós fazíamos contato com
o pessoal do partido que trabalhava nos navios
do Lloyd Brasileiro, da Companhia de Navegação.
Em quase todos os navios tinha gente a bordo que
era do partido. Foguistas, moços de convés,
mestre de bordo. Cada navio tinha dois, três
até seis elementos do partido. No Lloyd
Brasileiro então tinha muita gente. Esse
pessoal nos entregava a Classe Operária,
cartas e documentos. O responsável pelo
contato com o pessoal de bordo era um doqueiro
chamado Pedro Arcanjo”.
Mesmo
com o partido organizado, o trabalho sindical
continuou sendo feito junto com Café Filho,
que, a essa época, apresentava-se como
um aliado de Luiz Carlos Prestes e integrante
da Aliança Liberal de Assis Brasil. dois
anos antes, Café Filho havia organizado
a Federação dos Trabalhadores do
Rio Grande do Norte, para fazer frente à
Liga e ao Centro Operário e o grupo maxilimista
de Praxedes se ligou à nova entidade que
tinha uma boa infra-estrutura. “Eles tinham
banda de música, escola de teatro, escola
de 1º grau e um jornal, chamado A Folha Operária.
Era uma potência mesmo. Foi esse jornal
que publicou o Manifesto de Prestes à Nação,
lançado de Passos de los Libres, depois
da Coluna. Me lembro até hoje como começava
esse manifesto: ‘Filho dessa terra que sempre
produziu homes ativos e generosos, acostumei-me
a encarar de perto a vida de nosso povo. O delegado
e o juiz são capangas sórdidos.
. .’ e por aí vai” –
recorda-se Praxedes.
Em
março de 1929, o partido convoca seus militantes
para a I Conferência Nacional, onde seria
criado o Secretariado do Extremo Norte e Nordeste.
Praxedes é escolhido como delegado do Rio
Grande do Norte e viaja para Recife. “Discutimos
lá durante dois dias e meio. Compareceram
delegados de todos os Estados nordestinos, a maioria
gente do campo. Ouvimos os informes da situação
partidária em todos os Estados e da situação
dos trabalhadores, que era muito ruim. Nos canaviais,
os trabalhadores recebiam 1.500 réis por
dia, o que não dava para nada. A maioria
se alimentava com caldo de cana e farinha com
pimenta. Era uma miséria danada”
– relembra Praxedes.
A situação
política do país nessa época
continuava tensa. Aproximava-se a campanha eleitoral
com o lançamento de dois candidatos: Júlio
Prestes, apoiado por Washington Luís e
Getúlio Vargas, apoiado pela Aliança
Liberal. Segundo Praxedes, a Conferência
discutiu a conjuntura política e aprovou
uma posição de eqüidistância
entre as duas candidaturas. “Aquilo era
uma luta entre dois grupos e nós, trabalhadores,
não tínhamos nada com isso. A tática
política aprovada na Conferência
foi a de reforçar as bases do partido e
iniciar a preparação das condições
para um movimento armado contra as oligarquias.
O partido não apoiou nenhum candidato,
porque eles não tinham a nossa confiança.
O partido pregava que, se houvesse condições,
deveríamos pegar em armas contra as oligarquias”
– interpreta Praxedes.
Ao
contrário dos comunistas, Café Filho
jogou-se com força na campanha getulista
e, com isso, fortaleceu as bases da Federação
dos Trabalhadores do Rio Grande do Norte. “Ao
mesmo tempo em que a Federação crescia,
Café ia atacando o Juvenal Lamartine que
era o governador do Estado e apoiava Júlio
Prestes. No entanto, Café não tinha
respaldo na classe média e o Juvenal Lamartine
começou a mandar prender os seguidores
de Café, na verdade um grupo de fanáticos
recrutados por ele” – conta Praxedes.
Essa
perseguição do governador do Estado
ao grupo de Café Filho teve seu ponto alto
no dia 21 de novembro de 1929, dia de Nossa Senhora
do Rosário, padroeira do Rio Grande do
Norte. Praxedes estava lá e conta o que
aconteceu: “A festa de Nossa Senhora do
Rosário é muito importante e mobiliza
gente do alto sertão, que desce para a
cidade. A Igreja de N. S. do Rosário ficava
perto da Federação e Juvenal Lamartine
aproveitou essa grande festa para mandar o polícia
atacar a Federação. Eles meteram
o couro, com os policiais à paisana. Quando
foi por volta das 8 horas da noite, o povo todo
na festa, pra lá e pra cá, os homens
atacaram a Federação e fizeram um
estrago danado. Quebraram tudo. Os instrumentos
da banda, as carteiras da escola, o diabo. O Café
teve sorte porque iam matá-lo. Quando viu
aquele negócio ele se meteu no meio do
povo e escapuliu. Não prenderam os líderes
da Federação, mas prenderam muitos
operários que estavam por lá”.
Depois
desse entrevero, Café Filho foge de Natal
e vai para Recife, onde se esconde na casa de
Cristiano Cordeiro, um dos principais dirigentes
do Partido Comunista. No entanto, Café
Filho não acerta nada com Cordeiro e o
Partido, e acaba indo trabalhar no jornal de Lima
Cavalcanti, governador de Pernambuco. Pouco tempo
depois é chamado por Antônio Carlos,
líder do Partido Republicano Mineiro e
governador de Minas Gerais. Essa foi a deixa que
o partido esperava para atacar mais abertamente
Café Filho.
“Quando
nós soubemos que Café Filho estava
ligado a Antônio Carlos, que não
tinha acertado nada com Cristiano Cordeiro, aí,
então, pau nele. Decidimos mostrar a todos
os elementos da Federação, que ainda
estavam encagaçados com o pau que haviam
recebido do Juvenal Lamartine, quem era João
Café Filho. O Cristiano Cordeiro nos comunicou
que Café tinha estado lá e que ele
esperava outra coisa dele. Então, já
que era assim, começamos a desmascarar
abertamente João Café para os trabalhadores
e, com isso, a Federação acabou.
Desmoronou tudo, debandou tudo. Mas ficou o Partido.”
^
Subir
<
Voltar
Nosso
Projeto |
Mapa Natal 1935 | Mapa
RN 1935 | ABC
Insurreição | ABC
dos Indiciados | Personagens
1935 | Jornal
A Liberdade | Livros
| Textos
e Reflexões | Bibliografia
| Linha
do Tempo 1935 | Imagens
1935 | Audios
1935 | Vídeos
1935 | ABC
Pesquisadores | Equipe
de Produção
História
dos Direitos Humanos no Brasil
Projeto DHnet / CESE Coordenadoria Ecumênica
de Serviço
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular
CDHMP |
 |
 |
 |
|