Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
Praxedes, um operário no
poder
Praxedes:
Um Operário no poder
A Insurreição de
1935 vista por dentro
Moacyr de Oliveira Filho
Editora Alfa-Omega,1985
Nosso
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de Produção
Anexos
Programa do Governo Popular Nacional Revolucionário*
Com
o objetivo principal de desfazer malentendidos,
assim como de responder às interrogações
de muitos companheiros aliancistas, passamos a
dar algumas informações concretas
sobre o caráter do Governo Popular Revolucionário,
pela implantação do qual nos batemos,
como libertadores do Brasil e verdadeiros democratas,
isto é, como membros ativos da Aliança
Nacional Libertadora.
1
– Caluniam a ANL e fazem evidentemente um
trabalho de provocação policial,
todos aqueles que dizem ser a nossa organização
uma simples máscara do Partido Comunista,
porque a ANL é uma ampla frente única
nacional de todos os que, no Brasil, querem lutar
pela independência nacional, contra o imperialismo
estrangeiro que nos escraviza e contra o fascismo
que, em países como o nosso, é instrumento
do mais hediondo terror o serviço do imperialismo,
incapaz de continuar dominado pelos antigos métodos
até agora empregados.
Da
mesma maneira, não compreendem nada sobre
as intenções dos libertadores do
Brasil ou são simples agentes provocadores
dos nossos adversários aqueles que pretendem
confundir o Governo Popular Nacional Revolucionário
pelo qual se bate a ANL com um governo soviético,
com a ditadura democrática de operários
e camponeses, soldados e marinheiros. Nas condições
atuais do Brasil, frente à ameaça
do mais terrível fascismo, frente à
completa colonização do nosso País
pelo imperialismo, ao qual vai ele sendo vendido
cinicamente pelo governo de traição
nacional de Getúlio e de seus mais fiéis
lacaios nos Estados, o que nós, da ANL,
proclamamos é a necessidade de um governo
surgido realmente do povo em armas, compreendendo
como um povo a totalidade da população
de um país, com exclusão somente
dos agentes imperialistas e da minoria insignificante
que os segue. Esse governo não será
somente um governo de operários e camponeses,
mas um governo no qual estejam representadas todas
as camadas sociais e todas as correntes importantes,
ponderáveis, da opinião nacional.
Será um Governo Popular, na estrita significação
da palavra, por se apoiar nas grandes organizações
populares, como sindicatos, organizações
camponesas, organizações culturais,
Forças Armadas, partidos políticos
e democratas etc., e terá à sua
frente os homens de real prestígio popular,
os homens que em cada lugar representam na realidade
o povo ou a população local. À
frente de tal governo, como chefe inconteste,
com maior prestígio popular em todo País,
não é possível encontrar
um nome capaz de substituir o de Luiz Carlos Prestes,
porque o nome de Prestes representa para as grandes
massas de todo o País a garantia de que
tal governo lutará realmente, efetivamente,
pela execução do programa da ANL;
e a garantia de que tal governo não seguirá
pelo caminho dos anteriores, pelo caminho trilhado
por Vargas, de completo abandono das promessas
de 1930 e de franca e cínica traição
nacional.
Convém
aqui um esclarecimento oportuno. Com o crescimento
impressionante do prestígio popular da
ANL, dela se aproximam muitos elementos que dizem
concordar com o seu programa e mesmo com a implantação
de um governo popular no Brasil, mas, sem Prestes,
ou, pelo menos, sem que Prestes seja em tal governo
a figura central e decisiva. Pode parecer, à
primeira vista, que se trate exclusivamente de
uma questão pessoal e nada mais. Mas isto
não é exato. É indispensável
que todos os aliancistas compreendam o fundo evidentemente
contra-revolucionário de tal tendência.
Afastar a figura nacional popular e revolucionária
de Prestes da direção do governo
é conspiração dos que temem
a execução do programa da ANL, a
luta contra o imperialismo e a satisfação
dos interesses populares, é querer seguir
o mesmo caminho de 1930, o caminho da traição,
o caminho da liquidação progressiva
dos verdadeiros revolucionários. Por isso
precisamos mostrar ao povo que os defensores de
tal ponto de vista são organizadores, desde
já, em nossas fileiras, da contra-revolução.
2 –
O Governo Popular, como representante dos interesses
das grandes massas da população
só poderá ser exercido sob o controle
direto do povo, praticando a democracia no seu
sentido mais alto pela prática da completa
liberdade de pensamento, de palavra, de imprensa,
de organização religiosa, racial,
de cor etc. O Governo Popular só poderá
viver na prática e na execução
de todas as medidas solicitadas pelo povo, através
de suas mais diversas organizações.
O Governo Popular será a democracia praticada
pela primeira vez em nosso País, será
realmente o governo do povo, porque em tal governo
o povo intervirá diretamente com suas sugestões,
exigências, participando também praticamente
na execução das medidas que lhe
interessam. À frente de tal governo poderão
ficar homens de real prestígio popular,
os homens que verdadeiramente interpretem a vontade
da grande maioria popular. Nestas condições,
no Governo Popular deverão estar representadas
todas as camadas sociais, inclusive burguesia
nacional pelos seus elementos realmente antiimperialistas
e antifascistas. O Governo Popular, governo surgido
do podo em armas, não será um governo
somente de operários e camponeses, será
o governo da ampla frente única de todos
os brasileiros antiimperialistas.
3 –
mas ao mesmo tempo esse governo será um
Governo Nacional Revolucionário, porque
frente ao imperialismo e aos seus agentes esse
governo será profundamente revolucionário,
não reconhecendo nem dívidas, nem
tratados, nem acordos, nada em suma de tudo o
que significa a vergonhosa entrega do Brasil aos
capitalistas estrangeiros. Frente ao imperialismo
o Governo Nacional Revolucionário será,
realmente, nacional e revolucionário, profundamente,
radicalmente, energicamente revolucionário.
Neste sentido é indispensável que
se acentue que esse será o único
governo capaz de uma atitude enérgica frente
aos dominadores estrangeiros, porque, apoiado
por todo o povo, exercido pelos seus chefes de
maior prestígio popular, sofrendo a influência
direta das grandes organizações
de massa, apoiado nas Forças Armadas de
todo o País, será o primeiro governo
em nosso ao País dentro da democracia popular
que será capaz de exercer a mais dura ditadura
contra os imperialistas e seus agentes. Democracia,
sim, mas para o povo, para os brasileiros e para
todos os que trabalham honestamente sem explorar
o Brasil, mas na mais dura, mais enérgica
e mais terrível ditadura contra o feudalismo
estrangeiro e contra os seus agentes no Brasil,
aos brasileiros que vendem sua pátria ao
imperialismo. Dar liberdade aos agentes do imperialismo
seria negar o conteúdo nacional revolucionário
de tal governo e suicídio da própria
revolução libertadora.
4 –
O Governo Popular Nacional Revolucionário
não significará a liquidação
da propriedade privada sobre os meios de produção,
nem tomará sob seu controle as fábricas
e empresas nacionais. O referido governo dando
início no Brasil ao desenvolvimento livre
das forças de produção não
pretende a socialização da produção
industrial e agrícola, porque nas condições
atuais do Brasil só será possível
com a implantação da verdadeira
democracia, liquidar o feudalismo e a escravidão,
dando todas as garantias para o desenvolvimento
livre das forças de produção
do País. Mas, como os pontos estratégicos
estão em mãos do imperialismo o
Governo Nacional Revolucionário, desapropriando
e nacionalizando revolucionariamente tais empresas,
terá desde o início grandes forças
de produção em suas mãos,
o que constituirá incontestavelmente um
forte fator ao lado do desenvolvimento livre das
forças de produção do País,
que garantirá o ulterior desenvolvimento
progressivo do Brasil.
5 –
O Governo Popular tomará imediatamente
todas as medidas necessárias no sentido
de garantir a execução de uma legislação
social mínima que compreenderá como
medidas essenciais, entre outras: a) oito horas
de trabalho e menor número para menores;
b) igual salário para igual trabalho; c)
salário mínimo de acordo com as
condições de vida de cada localidade,
mas determinado pelas próprias organizações
operárias; descanso semanal obrigatório
remunerado; e) férias anuais remuneradas;
f) condições higiênicas nos
locais de trabalho; g) dois meses de repouso antes
e depois do parto com salário garantido;
h) comitês de operários para controle
da legislação em cada local de trabalho;
i) seguro social para os sem-trabalho; j) caixa
de pensões e aposentadorias, etc.
O Governo
Popular Nacional Revolucionário tomará
imediatamente todas as medidas no sentido de baratear
a vida, diminuindo e mesmo suprimindo os impostos
sobre o pequeno comércio, como os impostos
sobre produção, como os impostos
de consumo sobre os artigos de primeira necessidade,
diminuindo os fretes, ferroviários e marítimos,
para os artigos de amplo consumo, etc. O Governo
Popular tomará todas as medidas para garantir
a instrução popular, liquidar o
analfabetismo, elevar o nível intelectual
das massas etc., tornando obrigatório o
ensino. O Governo Popular tomará todas
as medidas para garantir a saúde popular,
desenvolvendo o número de hospitais e de
clínicas, distribuindo gratuitamente ao
povo os medicamentos, modificando as condições
de habitação das grandes massas
urbanas pela desapropriação dos
edifícios que hoje pertencem ao imperialismo
a seus lacaios nacionais.
O Governo
Popular, nacionalizando os bancos, garantirá
os depósitos neles existentes e pertencentes
a todos os que não sejam traidores nacionais,
agentes diretos ou indiretos do imperialismo.
O Governo
Popular terá como renda fundamental para
satisfazer as despesas públicas o imposto
sobre as rendas das grandes companhias estrangeiras
e nacionais, dos grandes capitalistas nacionais,
liquidando com todos os impostos pagos hoje pelo
povo.
6 –
No campo o Governo Popular será exercido
pelos homens de confiança da grande massa
trabalhadora e defenderá naturalmente os
interesses de tal massa contra os grandes proprietários
feudais, os senhores territoriais que exploram
pelo mais duro feudalismo e escravidão
a quase totalidade da nossa população
camponesa e que estão diretamente ligados
aos exploradores imperialistas. O Governo Popular
acabará evidentemente com a submissão
medieval ao grande proprietário, assim
como com todas as contribuições
feudais ao senhor. Garantindo a posse da terra
aos que trabalham, garantindo terra para todos
os que queiram trabalhar, o Governo Popular exigirá
dos proprietários capitalistas o cumprimentos
no campo da legislação social que
for implantada pela revolução. O
Governo Popular, porém, não desapropriará
os que não empregam a exploração
feudal e, garantindo a liberdade de comércio,
diminuindo os fretes, acabando com todos os impostos
sobre a produção etc., permitirá
uma enorme e até desconhecida expansão
do mercado interno nacional.
7 –
O Governo Popular Nacional Revolucionário,
respeitando os direitos dos oficiais (mesmo generais)
do Exército e das Forças Armadas
de todo o País, só tomará
medidas de rigor contra o povo ou que tentaram
organizar a contra-revolução a favor
do imperialismo. Contra tais elementos o Governo
Popular não conhecerá clemência,
mas com todos os outros, como quadros experimentados,
unificará todas as Forças Armadas
do País, e junto com os operários
e camponeses em armas, dará corpo ao grande
exército nacional revolucionário,
o exército capaz de lutar vitoriosamente
contra a invasão imperialista e contra-revolução,
exército baseado na disciplina voluntária
e cujos chefes serão homens de confiança
dos próprios soldados.
8 –
Ainda uma palavra sobre a forma que terá
o Governo Popular. Nada melhor que a própria
vida, que a própria realidade revolucionária
para dar formas aos frutos da revolução.
Mas, se desde já é necessário
responder a tal questão, podemos dizer
que nada diz ser impossível que o Governo
Popular tenha a mesma forma aparente dos governos
até hoje dominantes. Isto é, um
governo central, exercido por um presidente, um
governo com um Ministério (de madeira que
as mais ponderáveis correntes populares
antiimperialistas estejam representadas no poder);
nos Estados e Municípios, idênticos
governos exercidos por pessoas de prestígio
popular no Estado ou Município.
__________
*
Publicado em 1935 – A Revolta Vermelha,
SILVA, Hélio, Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 1969. Extraído
do Arquivo de Getúlio Vargas – doc.
88 – vol. XX.
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