Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
Praxedes, um operário no
poder
Praxedes:
Um Operário no poder
A Insurreição de
1935 vista por dentro
Moacyr de Oliveira Filho
Editora Alfa-Omega,1985
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14.
Palavras Finais
Desde
a sua estréia prematura na vida política
– com apenas 12 anos, quando participou
da atividade de propaganda da campanha de Leônidas
da Fonseca ao Governo do Estado do Rio Grande
do Norte – até a sua morte, em dezembro
de 1984, quando acompanhava com interesse pelos
jornais a campanha de Tancredo Neves e da Aliança
Democrática è Presidência
da República, o sapateiro José Praxedes
de Andrade teve participação destacada
nos principais episódios da política
brasileira. Acompanhou a consolidação
do regime republicano, a Revolução
de 1930, as lutas da Aliança Liberal, a
trajetória da Coluna Prestes, a atividade
política e sindical de Café Filho,
que depois seria presidente da República
e, principalmente, foi um dos principais articuladores
do Governo Popular Revolucionário que,
em novembro de 1935, em Natal, instalou durante
quatro dias a primeira e única experiência
de um governo comunista no Brasil. Ao longo desse
livro, procurei traçar um painel de toda
essa intensa atividade política de Praxedes,
um verdadeiro herói da História
do Brasil.
Durante
todos esses anos, Praxedes sempre se orgulhou
de uma única coisa: da sua condição
de comunista. Nunca renegou sua ideologia, nem
tampouco o seu partido, embora a partir da década
de 60 dele tenha se afastado por razões
de saúde, de idade e, também, de
política. Praxedes, afastado da militância
partidária, não conseguia entender
e captar perfeitamente as divergências que
começavam a se instalar no movimento comunista
brasileiro. Para ele, o Partido Comunista do Brasil
era um só. O mesmo que em 1935 pegou em
armas contra a ditadura de Vargas. Durante todos
esses anos, José Praxedes de Andrade, mesmo
reconhecendo os erros cometidos, nunca renegou
a experiência da Insurreição
de 1935. Orgulhava-se de ter participado desse
histórico movimento e ainda sonhava com
o dia em que o socialismo fosse triunfante no
Brasil.
Sobre
a Insurreição de 1935, quase ao
encerrarmos nossa conversa, ele fez um sucinto
e muito pessoal balanço: “O movimento
teve erros, mas o saldo acabou sendo positivo.
Deixamos registrado para a História a experiência
da primeira República Democrática
e Popular da América Latina. Se não
fosse a libertação dos prisioneoros,
nossa situação poderia ter sido
outra. Com os presos nós poderíamos
marchar sobre as forças Dinarte Mariz que
se preparavam para atacar Natal, ter conseguido
nos juntar às tropas que estavam dispersas
no interior do Estado, atravessar a Paraíba
e nos ligar aos grupos guerrilheiros que se formavam
no interior de Pernambuco. Eu sempre acreditei
na nossa vitória. Só tive consciência
da derrota quando vi o quartel fechado, as tropas
dispersadas e os prisioneiros libertados. De qualquer
forma, a experiência de 1935 deixou um ensinamento
importante. quanto mais glórias se produz,
mais glórias se colhe. A Insurreição
de 1935 mostrou, também, que quando o povo
se revolta e pega em armas contra um regime de
arbítrio ele pode sair vitorioso. Essa
foi a sua grande lição”.
Praxedes
fez questão, ainda, de deixar registrado
no seu depoimento um elogio à figura do
sargento Quintino Clementino de Barros, o comandante
militar da Insurreição: “Quintino
é um herói, é um bravo. Era
um homem que não se acovardava diante das
dificuldades. Era um homem consciente do seu papel
dentro do processo de luta de classes. Ele mostrou
ser um verdadeiro revolucionário e, por
isso, merece todo o respeito e louvor. Sou testemunha
que durante os dias em que durou o movimento,
todas as vezes em que eu ia ao quartel, seja de
dia, seja durante a noite ou madrugada, encontrava
Quintino firme no seu posto. De pé, a postos,
com uma metralhadora na mão, controlando
a situação no quartel enviando tropas
para o interior, enfim, cumprindo com suas tarefas
de chefe militar do movimento. Nunca vi um homem
tão forte como ele”.
Assim
como guarda essa imagem respeitosa do sargento
Quintino Clementino de Barros, o Ministro da Defesa
do Governo Popular Revolucionário de 1936,
em Natal, Praxedes sempre carregou consigo pelo
resto da vida uma profunda mágoa com outro
líder militar da Insurreição,
o cabo Giocondo Dias, hoje secretário-geral
do Partido Comunista Brasileiro, apontado por
Praxedes como o principal responsável pela
libertação dos prisioneiros, precipitando,
assim o desfecho do movimento insurrecional. Para
Giocondo, ele faz um duro julgamento: “O
Giocondo fez tudo aquilo por indisciplina. Foi
como um crime de guerra”.
Depois
do desfecho da Insurreição, Praxedes
voltou a encontrar-se com Giocondo apenas uma
vez, mas fez questão de ignorá-lo.
“Em 1937, em Salvador eu estava andando
na rua, em frente ao relógio de São
Pedro, quando ouço alguém gritar:
‘Praxedes, Praxedes’. Era o Giocondo.
Viro para ele e respondo: ‘O quê?
É comigo?’. ‘É. Você
não é o sapateiro Praxedes?’
– indaga ele. ‘Não. Não
sou’ – respondi, continuando a andar.
Depois disso nunca mais o reencontrei” –
relata Praxedes.
Sintomaticamente,
o mesmo tratamento parece ser dispensado por Giocondo
a Praxedes. Numa entrevista sobre o movimento
de 1935, Giocondo Dias, ao citar os nomes dos
integrantes do Governo Popular Revolucionário,
refere-se de forma vaga a José Praxedes
de Andrade como “. . . e por um sapateiro
que não me recordo o nome” ¹.
Mais tarde, quando da morte de Praxedes, Giocondo
já dá uma opinião um pouco
diferente, dizendo: “Tivemos pouco contato
em 1935, e só o revi na legalidade, entre
1945 e 1947” ². No mínimo, uma
contradição curiosa.
__________
1.
DIAS, Giocondo, obra citada, pág. 153.
2.
Revista Isto É, nº 417, de 19/12/1984.
^
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