Coleção
Memória das Lutas Populares no RN
Coleção Memória Histórica
Luiz Ignácio Maranhão Filho - Volume IV
Luiz Ignácio Maranhão Filho, herói do povo brasileiro
Edival
Nunes Cajá
Luiz Ignácio Maranhão Filho foi, sem dúvida alguma, o maior
e mais consequente dos líderes dos estudantes do Rio Grande
do Norte nos turbulentos anos 60. Era um organizador nato, quase
que por instinto, por hábito revolucionário. E ele
o demonstrou brilhantemente por onde passou.
Foi o principal organizador do Grêmio do Atheneu, do Diretório
Acadêmico da Faculdade de sociologia da Fundação
José Augusto, foi eleito presidente da Casa do Estudante
do Rio Grande do Norte e coordenador da bancada dos delegados potiguares
ao XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE),
em 1968, na cidade de Ibiúna (SP), onde caiu todo o congresso
pela ação repressiva da polícia política
daquele famigerado regime fascista. Foi poeta e agitador cultural.
Fez tudo isto diante da repressão e das leis de exceção
da ditadura proibindo a reorganização dos DAs, Grêmios
e demais entidades estudantis e seus congressos.
O acirramento da luta de classes e o crescente desenvolvimento da
resistência popular levou a ditadura do capital e dos generais
ao desespero, com a passeata dos 100 mil em julho de 1968 no Rio
de Janeiro, criando decretos draconianos e destacamentos de agentes
do Estado para a eliminação física de seus
opositores, a ponto de dar inveja ao regime nazifascista de Hitler,
com a criação do AI-5, o 477, o DOI-CODi e os constantes
desaparecimentos políticos.
Na tentativa de impedir a sua derrubada, o governo militar decidiu
prender Emmanuel Bezerra e outros milhares de dirigentes do movimento
de massa em Natal e em todos os estados do Brasil.
Ao sair da prisão no final de 1969, Emmanuel se dedicou fervorosamente
ao trabalho clandestino de organização do seu partido,
o Partido Comunista Revolucionário (PCR), e de preparação
das condições para a resistência armada àquele
regime e a conquista de um Governo Popular-Revolucionário
para a construção de uma nova sociedade, a sociedade
socialista.
Mas foi como um abnegado e disciplinado organizador comunista que
Emmanuel mais se destacou na direção do PCR, tanto
no Rio Grande do Norte como em Alagoas (de 1970 a 1973). Naqueles
difíceis anos, em que nós éramos obrigados
a desenvolver a luta na mais severa clandestinidade, ele o fez com
extrema sabedoria, estudou os seis volumes de O Capital de Karl
Marx e formou toda uma geração de novos comunistas
revolucionários. No Comitê Central, cumpriu de forma
exemplar todas as tarefas que lhe foram designadas, inclusive, a
última da sua vida: representar a direção do
Partido nas discussões com as organizações
revolucionárias no Chile e na Argentina, deixando nelas a
imagem de um verdadeiro dirigente do movimento revolucionário.
Já de volta para o Brasil, Emmanuel, cheio de satisfação,
própria daqueles que cumpriram o seu justo dever, foi covardemente
seqüestrado pela “Operação Condor”,
organização criminosa formada por agentes dos governos
fascistas do Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile e Bolívia
com o objetivo de eliminar seus opositores políticos.
Emmanuel
foi entregue ao DOI-CODI do 2º Exército em São
Paulo, órgão que reunia os mais sádicos torturadores
do país, sob o comando do coronel do Exército Carlos
Brilhante Ulstra e do facínora delegado Sérgio Paranhos
Fleury - especialistas em torturas, estupros, assassinatos e na
ocultação de cadáveres de centenas de dirigentes
revolucionários.
E
para o espanto e a indignação dos torturadores, impotentes
em obter informações sobre o PCR, depois das sessões
de choques elétricos, do pau-de-arara, da cadeira do dragão,
Emmanuel nada cedeu; desesperados, partiram para a aplicação
do colar da morte, que consiste no uso da ponta de sabre quente
cravando até ao osso em torno do pescoço no estilo
de um colar e a amputação do seu umbigo com tesoura.
Mas eles não tiveram a satisfação de saber
sequer em que cidade do Brasil Emmanuel estava residindo, seu aparelho
domiciliar ficou intacto.
Emmanuel derrotou moralmente seus carrascos na trincheira de combate
mais adversa aos revolucionários, onde a luta é mais
desigual: nas câmaras de tortura da burguesia.
A sua gigantesca formação política, ideológica
e a sua fé inquebrantável no PCR e na classe operária
impediram que a polícia adentrasse na sua organização.
Assim, nós, sobreviventes dos combates desiguais com o fascismo
e mirando-nos na força do seu exemplo – assim como
no de Manoel Lisboa, de Amaro Luiz de Carvalho, de Manoel Aleixo
e de Amaro Félix Pereira -, reorganizamos o seu partido,
resguardamos seus princípios e trabalhamos diuturnamente
para a vitória da revolução socialista, bandeira
pela qual você, camarada Emmanuel, dedicou a sua vida. Por
isto, lutamos todos os dias e nos esforçamos para sermos
sempre dignos do seu heróico exemplo de vida.
De nada adiantou a tentativa de caluniar a heróica história
da sua titânica resistência às cruéis
torturas, assim como a do seu mais fraternal e indômito camarada,
Manoel Lisboa de Moura.
Emmanuel, este documentário resgata exatamente a história
não da sua morte, mas da sua imortalidade.
Edival Nunes Cajá - É sociólogo, ex-preso político,
membro do CC do PCR e integrante da coordenação do
Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco.
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