
Luiz
Mott
Homofobia: uma epidemia
nacional
O
Brasil, conhecido internacionalmente como
"exportador" de travestis para a França e Itália,
é um país extremamente contraditório no que se refere
aos homossexuais: em seu lado cor de rosa temos por
exemplo a consagração da transexual Roberta Close, capa
das principais revistas nacionais, eleita “modelo de
beleza da mulher brasileira” ; do lado sombrio, há
provas de que neste mesmo Brasil, a cada três dias, um
homossexual é barbaramente assassinado, vítima da
homofobia.
Nosso
país - que ostenta a fama internacional de ser uma das
partes do mundo onde os gays e lésbicas são mais visíveis
e socialmente aceitos - esconde uma desconcertante
realidade: é o campeão mundial em assassinatos de
homossexuais. Nos Estados Unidos, com cem milhões de
habitantes a mais que nosso país, entre 1992-1994, foram
registrados 151 assassinatos de homossexuais, enquanto no
Brasil, no mesmo período, foram 180 os gays e lésbicas vítimas
de crimes de ódio. Tal número deve ser ainda muito
maior, dada a precariedade de nossas estatísticas
criminais.
Se
já somam no Brasil 76 Municípios, dois Estados e o próprio
Distrito Federal onde a lei proíbe a discriminação
baseada na orientação
sexual, uma fantástica e recente conquista do
pequenino mas combativo Movimento Homossexual Brasileiro,
infelizmente, tal proteção legal é ainda letra morta,
pois ninguém até hoje foi processado no Brasil por
discriminar homossexuais. E motivos não faltam para que
esta lei fosse aplicada: o principal jornal do Norte e
Nordeste do Brasil, por duas vezes publicou, impunemente,
a pena de morte aos homossexuais : “Mantenha Salvador
limpa, mate uma bicha todo dia!”
Neste mesmo jornal, o mais homofóbico do país, um
jornalista cristão declarou sem pejo: “Elevar a triste
condição dos homossexuais a paradigma de um
comportamento normal, é inadmissível, aberrante, absurdo
e revoltante. Lepra, tuberculose e homossexualismo são
doenças combatíveis!”
Em S. Paulo, o então Deputado Raimundo da Cunha Leite, do
PMDB, declarou: “Os homossexuais não podem ter os
mesmos direitos que têm as pessoas normais!” e o
jornalista Ivan Leal, do Rio de Janeiro, escreveu:
“Gostaria de ver todos os homossexuais condenados à
morte em forno crematório e mesmo assim lamentava que
sobrassem as cinzas!”
Pesquisas
de opinião pública confirmam que, de todas as minorias
sociais, os homossexuais são as principais vítimas do
preconceito, mais rejeitados que os negros, judeus e
mulheres . 79% dos brasileiros
inquiridos pelo Ibope/Veja disseram que ficariam tristes
se tivessem um filho ou filha homossexual; 56% mudariam
sua conduta com o colega se soubessem que é gay; 56% não
concordam que um candidato homossexual seja eleito
Presidente da República; 47% mudariam seu voto caso fosse
revelado que seu candidato a uma eleição é homossexual;
45% trocariam de médico e dentista se descobrissem que
ele é gay; 36% deixariam de contratar um homossexual para
um cargo em sua empresa mesmo que fosse o mais qualificado.
Se
a raiz histórica da homofobia no Brasil remete-nos à
secular repressão exercida pela Igreja Católica através
da Inquisição, hoje a principal responsabilidade pela
manutenção dos estereótipos negativos e ações
discriminatórias contra gays e lésbicas continuam a ser
as principais instituições formadoras de nossa
sociedade: a família, a escola, os órgãos
governamentais, a mídia.
Para que o leitor se convença da gravidade e
institucionalização da homofobia em nosso meio, e da urgência
em se viabilizar estratégias que promovam os direitos
humanos das minorias sexuais, arrolamos a seguir alguns
episódios ocorridos apenas em l997, nos quais
patenteia-se o alto grau de violação dos direitos de
cidadania dos homossexuais no Brasil.
Agrupamos tais violações sob os seguintes temas: tortura
e agressões; discriminação familiar, escolar e
religiosa; violência anti-lésbica; golpes e ameaças;
insulto, difamação e propaganda discriminatória;
discriminação em órgãos governamentais; violência
contra travestis; repressão à livre movimentação,
privacidade e trabalho; assassinato de homossexuais.
Violação dos Direitos
Humanos dos Homossexuais no Brasil
Tortura
& Agressões
-
DENUNCIA
DA ANISTIA INTERNACIONAL: HOMOSSEXUAIS SÃO PERSEGUIDOS NO
BRASIL
Ao
lado do Irã, Turquia e Zimbábue, o Brasil é apontado
como um dos países que mais persegue e discrimina os
homossexuais, de acordo com o Relatório da Anistia
Internacional. Diz o Relatório: “no Brasil centenas de
membros das minorias sexuais foram assassinados nos últimos
anos” [Jornal do Brasil, 23-6-97; O Globo, 24-6-97]
-
MILITAR
GAY SOFRE AGRESSÃO E VAI PARA UTI
O
Tenente Coronel Zani Maia, 47, Comandante do Regimento
Sampaio, após ter sido flagrado em setembro/96 em seu
carro mantendo relações homoeróticas com um balconista,
foi expulso das Forças Armadas. O Coronel Hugo Coelho de
Almeida, do Rio de Janeiro, sugeriu a pena de morte contra
o Comandante. Alguns meses depois, na esquina da Rua Padre
Manoel da Nóbrega, sofreu um golpe com um paralelepípedo
na cabeça, ficando com a testa fraturada, edema nas pálpebras
e traumatismo craniano. Internado na UTI do Hospital
Central do Exército, permanece diversas semanas em estado
de coma. Segundo opinião do Deputado Fernando Gabeira,
suspeita-se que o crime esteja relacionado ao fato de o
militar ser homossexual. O deputado quer que a Câmara
acompanhe todos os casos de morte envolvendo homossexuais,
porque segundo ele, a polícia geralmente não trata esses
crimes com seriedade.”[O Globo, 8-9-97; Veja, 16-4-97]
-
MILITANTE
GAY É AGREDIDO POR POLICIAL EM SP
O
presidente do Grupo 28 de Junho de Emancipação
Homossexual, Eugênio Ibiapino dos Santos foi abordado por
policiais na Praça da República, no centro de SP, e ao
identificar-se como ativista gay, foi vítima de insultos
verbais e vários tapas na nuca. [Registro de Queixa na 3a
Delegacia de Polícia, SP, 25-2-97, Boletim n.001566/97]
-
ATOR
É AGREDIDO POR CAUSA DE PERSONAGEM HOMOSSEXUAL
O
ator André Gonçalves foi barbaramente agredido e ameaçado
de morte por ter representado personagem homossexual numa
novela da TV-Globo. Os agressores fazem parte de um grupo
que há meses o xingava, zombando de seu personagem.
“Eles me jogaram no chão, deram tapa na cara, mata-leão
e quase quebraram meus braços.”[O Globo, 8-1-97]
-
GAY
TORTURADO VAI PARA A UTI EM SALVADOR
O
gay F.T., de Salvador, foi encontrado em seu apartamento
amarrado numa cadeira, tendo sido espancado, queimado com
cigarro, seus pulsos quebrados e com grave golpe na cabeça,
sendo socorrido dias depois, em estado de coma. Por medo
do escândalo familiar, não registrou queixa na polícia.
[Denúncia registrada no Grupo Gay da Bahia, dezembro/97]
-
JOVENS
DE BRASÍLIA CONSIDERAM NORMAL AGREDIR GAYS
Pesquisa
realizada pela Unesco comprova que apenas 12% dos jovens
de Brasília consideram crime humilhar travestis,
prostitutas e homossexuais. Uma prática muito difundida
entre os adolescentes de classe média de Brasília são
as surras que aplicam em travestis e gays. No Distrito
Federal, as travestis fazem ponto nos setores Comercial,
Hoteleiro e de Diversões, locais com pouca iluminação e
deficiente policiamento. Marcelo Kalil, 29 anos, disse que
já presenciou este tipo de agressão. “Vi um cara
quebrar um taco de beisebol nas costas de uma bicha, pela
janela do carro em movimento. Foi uma selvageria. “ [Ag.
Jornal do Brasil, 25-11-97; O Globo, 27-4-97]
-
ANISTIA
INTERNACIONAL DENUNCIA EXTERMÍNIO DE GAYS EM MACEIÓ
A
Anistia Internacional incluiu na categoria de Urgent
Action a denúncia de execuções extrajudiciais de três
homossexuais de Alagoas, José Miguel dos Santos, 18 anos,
Husles Souza Santos e outro não identificado. Aos 10-6-97
as travestis Aleska e Fabiana foram conduzidas à 2a
DP da Polícia Civil onde foram torturadas barbaramente
por três policiais sob alegação de não terem pago o
pedágio à polícia. Foram forçados a limpar a
delegacia, inclusive privadas imundas. [Anistia
Internacional, Urgent Action 236/97, AMR, 19-19-97 de
25-7-97]
-
GANGUE
ATACA HOMOSSEXUAIS NO RIO
Uma
gangue de rapazes jovens de classe média, com noções de
artes marciais, está sendo investigada pela polícia como
suspeita de ser a responsável pelos ataques a
homossexuais freqüentadores de bares gays em Botafogo. No
mês de julho/97, segundo denúncia do Grupo Arco Íris,
15 gays foram vítimas de agressões, dos quais 7
registraram queixa na delegacia. Dois deles, G, 47 anos,
funcionário de Recursos Humanos de uma empresa da Zona
Sul, e o garçom M, 24, foram atacados a socos e pontapés
na Rua Voluntários da Pátria, na madrugada de 29-7, ao
sair do Bar Jumping Jack, na Rua Real Grandeza. Segundo as
vítimas, os agressores usavam roupa preta, tinham entre
15-18 anos, cabelo cortado à máquina. O ator F, 26 e o
estudante I, 28, ao tentarem socorrer as vítimas, também
foram espancados, escapando num táxi. Em maio do mesmo
ano, o fotógrafo P, 32 anos, e o operador de
telemarketing, R, 23, foram espancados também por um
grupo de rapazes na mesma localidade. Apesar do registro
de diversas queixas, não houve nenhuma investigação,
declarou o presidente do Arco Íris, Cláudio Nascimento.
[Correio Popular, Campinas, 8-7-97]
-
TRAVESTI
QUEIMADO VIVO EM S.PAULO
O
travesti Paulo Sérgio de Jesus, 23 anos, dormia com
outros colegas num colchão na passarela da Rua Avanhadava,
bairro da Boa Vista, SP, quando rapazes de dentro de um
Passat branco, jogaram álcool em seu corpo e atearam
fogo. O travesti foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia,
onde corre risco de vida. [Correio Brasiliense, 17-10-97]
-
DISQUE
DENÚNCIA RECEBEU 71 CHAMADAS DE VIOLÊNCIA ANTI-GAY
O
Grupo Atobá, do Rio de Janeiro, recebeu pelo telefone
021-3320787, 71 denúncias de maltratos contra
homossexuais, entre elas, a do diretor do próprio grupo,
Daniel Pinheiro, que ficou com fraturas nos braços e
costelas ao ser agredido por dois "carecas" no
Realengo (zona Oeste do RJ). Outro gay denunciou ter sido
agredido por policiais do exército que policiavam o
Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, e que para
humilhá-lo, obrigaram-no a fazer sexo oral numa travesti,
levando uma coronhada no joelho. [Folha de S.Paulo,
13-8-97]
Discriminação
familiar, escolar, religiosa
-
PROFESSOR
DE ARTES MARCIAIS NÃO ACEITA ALUNO GAY
Hélio
Gracie, 84 anos, Mestre de Jiu-jítsu, declarou nas Páginas
Amarelas: “Homossexualismo é uma doença, uma fraqueza
que eu abomino, mas não posso condenar ninguém por ser
fraco ou ter um defeito. Alguns alunos eu só descobri que
eram homossexuais depois. Mas os que eram não se
manifestavam como tal. Se tivessem se manifestado, eu
rifava: dispensaria o aluno.” [Veja, 8-10-97]
-
MÃE
EXPULSA FILHO HOMOSSEXUAL DE CASA
EJSS,
17 anos, morador em Recife, denunciou que sua mãe o
expulsou de casa após surpreendê-lo com o namorado,
insultando-o e ameaçando-o de morte. Sem meios de se
sustentar, mudou-se para Salvador para tentar arranjar
emprego recebendo apoio do GGB. [Registro de Queixas de
Violência e Discriminação, Arquivo do GGB, 2-4-97]
-
PAI
DESERDA FILHO HOMOSSEXUAL
Aos
26-4-97, o homossexual T.A.S., 17 anos, residente em
Salvador, BA, após uma discussão doméstica, sua mãe e
irmã telefonaram a seu pai revelando que o jovem freqüentava
boates gays e que era homossexual. Seu pai declarou:
“Você morreu para mim, a partir de agora não pagarei
mais colégio particular, nem cursos de inglês: você
escolheu, então fique com os viados!” O jovem disse ser
obrigado a ficar trancado no quarto para não ouvir
piadinhas e agressões verbais de seus familiares.
[Registro de Queixa de Discriminação Anti-Homossexual,
Arquivo do Grupo Gay da Bahia, 29-4-97]
-
CRENTES
DISCRIMINAM HOMOSSEXUAIS EM OUT-DOOR
O
Diácono José Roberto Martins, da Assembléia de Deus,
espalhou pelas principais avenidas de Maceió uma série
de out-doors com os dizeres: "Homossexualismo é
pecado!"[Tribuna de Alagoas, 7-1-97]
-
TENENTE
É PRESO POR INTERPRETAR HOMOSSEXUAL.
Carlos
Machado, 31, tenente-dentista da Aeronáutica, foi preso
por 15 dias por ter representado o papel de homossexual na
peça Alta Vigilância
de Jean Genet e por ter tirado foto na praia ao lado do
uniforme militar. [Folha da Tarde, 4-2-97]
-
MINISTÉRIOS
EVANGÉLICOS RECUPERAM HOMOSSEXUAIS
A
Assembléia de Deus divulga a existência de 6 Ministérios
dedicados à recuperação de homossexuais, dirigidos pelo
Pastor Carlos Henrique e Maurício César da Silva. Tais
entidades baseiam-se na atuação internacional
centralizada pelo grupo Exodus, dos Estados Unidos. A
Associação Norteamerica de Psicologia condena essas
tentativas de “curar” homossexuais [Folha de S.Paulo,
20-4-97]
-
GAY
E LÉSBICA BARRADOS NA IGREJA
O
Chanceler da Cúria Metropolitana de S.Paulo, Cônego Antônio
Trivinho e o Vigário Geral da Arquidiocese, D. Antônio
Gaspar, negam o casamento religioso a Carlos José de
Sousa e Lurdes Helena Moreira, sob alegação de terem
provocado pernicioso escândalo ao se declararem gay e lésbica.
Mesmo após terem concluído o curso de noivos e terem
pago as taxas da cerimônia, a Cúria proibiu a realização
do ato. [Jornal da Tarde, 13-3-97; Folha SP, 21-3-97]
Lesbofobia:
violência anti-lésbica
-
LÉSBICA
É ESTUPRADA E HUMILHADA PUBLICAMENTE POR POLICIAL
Denúncia
do Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania
da Assembléia Legislativa do Ceará, Deputado Mário
Mamede: aos 5-1-97, um agente do Sistema de Segurança Pública
do Ceará prendeu a jovem FLCV, 19 anos, que na ocasião
portava um pequeno canivete tipo chaveiro, quando passeava
de bicicleta com sua amiga, sofrendo a mais vil das
humilhações, sendo estuprada dentro da 24a DP
pelo investigador de polícia Sebastião Alves, onde foi
obrigada a praticar sexo oral, vaginal e anal com o mesmo,
ficando a jovem com graves seqüelas físicas e psicológicas.
Além das sevícias sexuais, o policial percorreu diversos
bares de Fortaleza, exibindo a vítima e divulgando que a
mesma era lésbica e mantinha relação homossexual com a
adolescente NNSM, 17 anos. O pai e ex-noivo da menor foram
à Delegacia onde declararam que a vítima era uma
vagabunda e tinha seduzido sua filha. [Ofício n.0086/97,
Assembléia Legislativa do Ceará; Ofício 024/97 da
Executiva do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de
Rua ao Ministro da Justiça, Nelson Jobim]
-
LÉSBICAS
VÍTIMAS DE DISCRIMINAÇÃO
De
acordo com denúncia do Coletivo de Feministas Lésbicas
de S.Paulo, através do
Projeto Felipa de Sousa de Orientação Jurídica para Lésbicas
Vítimas da Violência e Discriminação, em S.Paulo,
entre Agosto/96-Agosto/97, foram registrados 21 casos
caracterizados de lesbofobia, incluindo as seguintes ocorrências:
ameaça de perda da guarda das filhas no processo de divórcio;
pai leva filha de lésbica para exterior; lésbica ameaçada
de expulsão de casa; lésbica ameaçada de ter sua
homossexualidade revelada num processo judicial; lésbica
agredida fisicamente por um membro da família; lésbica
obrigada por irmão, de quem é dependente, a fazer
tratamento psiquiátrico; lésbica discriminada no
trabalho, é forçada a pedir demissão; lésbica impedida
de visitar parceira doente no hospital; lésbica
ridicularizada em sala de aulas em S.Paulo; lésbica
discriminada num bar por manifestar carinho para
companheira; lésbica ameaçada de violência física pela
família de sua namorada; gerente de hotel em SP impede a
montagem de exposição de artigos sobre lesbianismo
durante o II Encontro Nacional de Feministas sobre a Violência
contra a Mulher; lésbica é extorquida para não ter sua
homossexualidade revelada à família. [Fonte “Lésbicas,
gays e a legislação.” Coletivo de Feministas Lésbicas
de S.Paulo, 1997]
-
EMPRESA
DISCRIMINA LÉSBICA
A
promotora de vendas Sueli de Jesus A. Silva, 36 anos, foi
demitida do emprego na Indústria de Biscoitos Aymoré e
nos Supermercados EPA, de Belo Horizonte, depois de ter
sido tachada de sapatão. Há dois anos ela não consegue
emprego e sobrevive graças a ajuda de amigos. Tudo começou
a partir de uma fofoca de que teria agarrado uma menina na
porta do Palácio das Artes, numa festa de fim de ano da
empresa. Aí o gerente dos supermercados divulgou que ela
era lésbica. Sueli entrou com processo na 7a
Vara Civil do Fórum Lafayete, ganhando a causa na
primeira instância. [Jornal do Brasil, 15-12-97]
Golpes
& Ameaças
-
GAYS
E LÉSBICAS SÃO VÍTIMAS DO GOLPE BOA NOITE CINDERELA
Até
setembro/97 já tinham sido registrados mais de 20 casos
de vítimas do golpe “boa-noite cinderela”, em que
rapazes de programa e marginais colocam sorrateiramente no
copo de bebida de homossexuais, substâncias psicotrópicas
e soníferos, praticando a seguir roubos e violência. O
mesmo golpe já foi aplicado em Campinas, Rio, Belo
Horizonte, Salvador. [O Globo, 21-9-97]
-
INTERNAUTA
PREGA ESPANCAMENTO E MATANÇA DE HOMOSSEXUAIS
Um
estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG,
utilizando o pseudônimo de Rancora, divulgou diversas
mensagens ultra-violentas contra os homossexuais e o
movimento gay: “Estou criando um grupo anti-gay no país.
Eu darei todo tipo de ajuda e até mandarei dinheiro se
você se propuser a matar os gays. Quero representantes no
Rio, S.Paulo, BH, Brasília, Curitiba, Porto Alegre,
Salvador, Recife e Fortaleza. Estou de precisando gente
para meter porrada nos infelizes homossexuais e causar pânico
no meio deles. Preferencialmente bichas da cor negra.
Pretendo também incendiar a sede do Grupo Gay da Bahia.
Os baianos geralmente são negros e por isso merecem
apanhar dobrado...” Em outro Email, de 3-6-97, Rancora
declarou: “Não é difícil espancar um gay. O ideal
para espancar um gay é sair com pelo menos três amigos:
use algum tipo de capuz para não ser reconhecido e leve
um porrete. Quando ele estiver passando por alguma rua
deserta, você o segura e o põe dentro do carro tipo furgão.
Então vai até uma estrada para foder com o infeliz.
Nunca deixe que perceba quem é você, pois do contrário
terá que matá-lo para não ser denunciado. Dê chutes
nele, na cabeça, barriga, saco escrotal e na espinha. Não
tenha medo de aleijá-lo. Você estará fazendo um bem
social. Deixe então o corpo do cara no mato sem que ninguém
te veja. Se matá-lo, afunde o corpo num rio. E não esqueça
de tirar as vísceras para o infeliz poder afundar e ninguém
encontrá-lo. Ninguém deve te ver e saber quem você é!”
A Reitoria da UFJF abriu sindicância mas até dez/97
ainda não revelou os resultados. [Jornal do Brasil,
19-8-97]
-
PRESIDENTE
DO GRUPO GAY DE ALAGOAS RECEBE AMEAÇA DE MORTE
Marcelo
Nascimento, Presidente do GGA, um dos coordenadores do Fórum
Permanente contra a Violência, recebeu ameaças de morte
através de uma ligação telefônica, onde disseram:
“’É melhor você e o advogado Pedro Montenegro se
afastarem das investigações dos assassinatos de
homossexuais porque os policiais inocentes não estão
gostando disso. Nós sabemos onde vocês moram e em reunião
os policiais decidiram fuzilá-los.” [Gazeta de Alagoas,
17-6-97]
Discriminação
nos órgãos governamentais
-
PRESIDENTE
DO PFL E DEPUTADOS INSULTAM HOMOSSEXUAIS
“Deputados
promovem algazarra ao votar proposta de casamento gay ”
foi a manchete de vários jornais que registraram o
preconceito de nossos parlamentares frente ao projeto da
Deputada Marta Suplicy, onde piadas e risadas eram
incompatíveis com o ambiente. O Deputado Inocêncio
Oliveira (PFL/PE) levou o plenário à loucura quando
subitamente começou a esbravejar contra a aprovação do
que chamava de “casamento gay”, declarando: “Este
projeto é uma pouca-vergonha, um desrespeito à Casa, é
uma aberração contra a natureza!” gritava, embalado
pelos aplausos e urros dos deputados que ocupavam quase
todo o plenário. Enquanto isto, o Deputado Severino
Cavalcanti (PPB/PE), o mais ardoroso opositor à proposta,
elogiava o Presidente do PFL: “Inocêncio, você é a
glorificação do homem de bem e meu candidato ao
Senado!” O Deputado Nilson Gibson (PSB/PE) gritava:
“Vamos votar é agora mesmo este projeto, queremos saber
a verdade da Casa, quem é quem nesta casa”, pregando
uma espécie de caça às bruxas e insinuando que os
deputados que votassem a favor do projeto seriam
homossexuais, enquanto o deputado Nelson Marquezzeli
(PTB/SP) repetia aos gritos “baitola”, “baitola”.
Ao defender o projeto de Marta Suplicy, o deputado Luiz
Eduardo Magalhães (PFL/BA) recebeu de Inocêncio Oliveira
o comentário depreciativo: “O Luiz Eduardo é mais
evoluído do que eu, porque nasceu em Salvador. Eu sou de
Serra Talhada!”[Jornal do Brasil, 6-12-97; A Gazeta, Vitória,
6-12-97]
-
HOMOSSEXUAIS
CONTINUAM DISCRIMINADOS NAS FORÇAS ARMADAS
Segundo
o Capitão de Mar e Guerra Wellington Liberatti, diretor
de relações públicas da Marinha, “a política de
exclusão de homossexuais destina-se a preservar, promover
e proteger valores e interesses legítimos das Forças
Armadas e não há a mais remota razão para qualquer
revisão desta conduta.”[O Globo, 11-5-97]
-
DETENTO
HOMOSSEXUAL É PUNIDO NO PARANÁ POR BEIJAR AMIGO
O
Conselho de Prisão de Curitiba puniu com 10 dias de
isolamento e a suspensão da visita ao preso José Antônio
G. Silva, 38, por ter se despedido de seu companheiro com
um beijo. Antes havia-lhe sido negado o encontro íntimo
com o mesmo. [O Estado de S.Paulo, 14-2-97; Jornal do
Estado do Paraná, 3-3-97]
-
CONSULADO
NORTE-AMERICANO DISCRIMINA TURISTAS GAYS
O
Vice-Cônsul do Consulado dos EUA, Robert Olsen, demitido
em l994, denunciou existirem ordens superiores orientando
a negar visto a negros, chineses, descendentes de árabes
e homossexuais. “Rapazes solteiros, de cabelo comprido e
brinco na orelha tinham poucas chances.” [Veja,
21—5-97]
-
CINCO
MARINHEIROS GAYS DO ESPÍRITO SANTO SÃO PROCESSADOS
O
cabo Rildo Duarte e quatro grumetes acusados pelo Ministério
Público Militar de usarem as dependências da Escola de
Aprendizes do Espírito Santo para a prática de atos
homoeróticos, foram enquadrados em processo por
desrespeito ao Código Penal Militar. “O comportamento
homossexual é incompatível com os valores de hierarquia,
disciplina e moralidade das Forças Aramadas”, define o
Ministério da Marinha. A Juíza Maria Lúcia Karam, da 2a
Auditoria Militar do RJ, rejeito a denúncia mas o Ministério
Público Militar recorreu ao Superior Tribunal Militar. [O
Dia, 9-9-97; O Globo, 17-9-97]
-
POLÍCIA
NÃO INVESTIGA ASSASSINATO DE HOMOSSEXUAL
O
gay Sidkley Passos dos Santos, (Brunela), 19 anos,
residente em Lobato, Salvador, foi barbaramente torturado,
castrado, e encontrado morto com um pedaço de madeira
dentro do ânus, e apesar dos ofícios de denúncia
enviados pelo Grupo Gay da Bahia à Secretaria de Segurança
Pública do Estado, não constou registro policial na
Delegacia da área onde foi assassinado nem foram
realizadas diligências para esclarecer o homicídio. [Ofício
do GGB à Secretaria de Segurança Pública de Salvador,
14-4-97]
Travestifobia:
violência contra travestis
-
TRAVESTI
ATROPELADA É ESPANCADA NA DELEGACIA
A
travesti Jéssica Mastroiani Fife, 22 anos, denunciou
junto ao GGB em reunião da Associação de Travestis de
Salvador (ATRAS) que sofrendo um atropelamento na orla marítima
de Salvador e perdendo os sentidos, foi colocada numa
viatura policial e em vez de ser levada para o Pronto
Socorro, conduziram-na à 7a DP onde foi
espancada, ficando com várias escoriações pelo corpo.
Segundo Lena Oxxa, Coordenadora da ATRAS, “as travestis
de Salvador constantemente são violentadas por policiais,
levadas para praias distantes, espancadas e obrigadas a
beber água salgada.”[Tribuna da Bahia, 28-11-97]
-
GUERRA
AOS TRAVESTIS EM GOIÂNIA
O
Primeiro Distrito Policial com apoio do Serviço Reservado
da Polícia Militar de Goiânia prendeu 8 travestis
acusadas de vadiagem e de estarem fazendo estripulias na
Avenida Parnaíba. O Delegado Roberto Neme disse que “não
pretende dar trégua aos travestis e disse ter recebido
ordem do Diretor Geral de Polícia Civil, Dr.Hitler
Mussolini (sic!) para prender também os michês e rapazes
que ganham dinheiro para fazer programas com homossexuais.
O tenente-coronel disse que tinha ordens de tirar de
circulação todos os travestis que permanecem nas
proximidades da Praça e ao longo da Avenida Anhanguera.
[Diário da Manhã, 5/6-2-97]
-
VINTE
TRAVESTIS PRESOS EM CURITIBA
A
Delegacia de Ordem Social de Curitiba realizou na
madrugada de 7-3 a Operação Profilaxia, no centro da
cidade, ocasião em que foram detidos 20 travestis e
encaminhados ao Juizado Especial Criminal. [Jornal do
Estado, 8-3-97]
-
GUARDA
MUNICIPAL ABRE GUERRA AOS TRAVESTIS NO RJ
Por
determinação do Prefeito Luiz Paulo Conde, a Guarda
Municipal deflagra uma série de operações visando
reprimir a prostituição: ”os travestis e prostitutas
flagrados serão detidos e encaminhados à 9a
DP”. [O Globo, 25-3-97; 26-3-97)
-
SEIS
TRAVESTIS SÃO DETIDOS EM CUIABÁ
Policiais
da Delegacia de Costumes detiveram seis travestis que
faziam ponto nas Avenidas Tenente Coronel Duarte (Prainha)
e na 15 de Novembro (Porto). Foram detidos 6 travestis e
levados para a DP Metropolitana de Cuiabá. [Folha do
Estado, Cuiabá, 19-3-97]
-
TRAVESTI
SOFRE ATENTADO EM CURITIBA
A
travesti Yasmin Borboleta, (Ronaldo Vidal, 30 anos, foi
atingida com um tiro no peito, em frente a Praça do
Ouvidor Pardinho, no bairro do Rebouças, em Curitiba,
acusando como autores do atentado rapazes que estavam
dentro de um Gol branco. [O Estado do Paraná, 22-8-97]
-
POLÍCIA
AFASTA TRAVESTIS DA RUA NA VISITA DO PAPA
Durante
a última visita de João Paulo II ao Rio de Janeiro, a PM
carioca retirou travestis e prostitutas de Copacabana e da
Glória, ameaçando os desobedientes com prisão durante o
período da visita papal. A travesti Dandara, 22 anos,
perguntou: “Vou ter de usar roupa de homem para sair na
rua?” [Correio Popular, Campinas, 2-10-97]
-
TRAVESTI
BALEADA EM BAURU, SP
O
travesti Adilson Miranda Jackson Jr, 18, afirmou que o PM
Clayton Thomaz Ferreira, 24, foi o autor do disparo que
atingiu suas pernas e mão direita no dia 22-3 próximo ao
Cemitério da Saudade. A vítima alega que o policial
recusou pagar os R$10, 00 pelo programa. O PM para
despistar o crime, trocou o cano da arma. O PM ficou em
prisão administrativa no CPA/I-9. [Jornal da Cidade,
Bauru, 18-4-97]
-
TRAVESTI
LEVA TIRO EM SP
A
travesti Amanda, 22 levou três tiros no ombro e peito, de
um cliente, armado com uma 765 automática, na Avenida
Indianópolis em out/97 e outra travesti, Bárbara, levou
um tiro na perna de um cliente que não queria pagar pelos
serviços sexuais. [Folha de S.Paulo, 23-11-97]
-
CASA
DE TRAVESTI É CRIMINOSAMENTE QUEIMADA EM GOIÂNIA
Um
incêndio ocorrido na Rua Jaó, 61, Vila Coronel Cosme, em
Goiânia, destruiu completamente a casa da travesti GMS,
“Gláucia”, sendo acusado o marginal Amarelinho como o
principal suspeito de ter ateado fogo, pois tinha
prometido roubar o travestis, arrombando a porta da casa
horas antes. [Diário da Manhã, 5-5-97]
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MORADORA
É PROIBIDA DE RECEBER TRAVESTIS NO APARTAMENTO
“A
enfermeira Adalgisa de Santana Ribeiro, militante da
organização não governamental Água Viva, que presta
assistência a travestis e portadores de HIV/Aids, promove
reuniões de esclarecimento em sua casa. O síndico de seu
prédio, no Catete, RJ, a denunciou ao proprietário do
apartamento e distribuiu circular entre os condôminos,
dizendo que ela recebia pessoas estranhas que estavam
comprometendo a segurança dos moradores. A enfermeira
teve de contratar um advogado para defender-se das acusações.”
[O Globo, 21-9-97]
-
TRAVESTIS
DE SALVADOR SÃO VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA POLICIAL
Nos
Arquivos do Grupo Gay da Bahia constam os seguintes Registros de Queixa de Violência e Discriminação de que foram vítimas
as travestis: Cláudia Horrana, 23 anos, permaneceu mais
de duas horas dentro do xadrez de uma viatura policial (n.
1818) sendo abandonada numa estrada deserta, altas horas
da madrugada, simplesmente porque estava fazendo pista na
Pituba, na orla de Salvador, 8-9-97; na mesma noite, Carol
Igor, 26 anos, fazendo ponto da Pituba, foi levada numa
viatura para a 7a Delegacia do Rio Vermelho,
onde policiais obrigaram-na a fazer sexo oral com os
mesmos, extorquindo-lhe R$15, 00; Débora Cazumbar, 25
anos, foi espancada nas costas por um PM branco de 30
anos, o qual lhe deu coronhadas, disse que merecia morrer,
extorquindo-lhe R$40, 00 em 21-8-97 e R$30, 00 aos
27-8-97; Fabíola, 29 anos, aos 21-8-97 declarou que
policiais da viatura n.1623, roubaram-lhe R$35, 00,
agarraram-na pelos cabelos e a jogaram nas pedras na Orla
da Pituba, ficando com profundos cortes e cicatrizes nas
pernas e uma semana após, foi novamente espancada nos
rins e nádegas, levando soco no ouvido, sendo extorquida
por policiais que lhe levaram um relógio e R$20, 00,
28-8-97; Gabriela, 24 anos, foi espancada por um PM num
matagal nas imediações da Rodoviária de Salvador, que
lhe roubou o celular e a féria da noite, ficando com uma
mão quebrada, a 21-8-97; Tailane Keli, 16 anos, foi
espancada nas pernas por um PM de nome José Luiz, viatura
n.1628, que lhe roubou máquina fotográfica e dinheiro, a
28-8-97; Débora Rios, 18 anos, foi agredida por policiais
na Pituba, os quais disseram estar se vingando por terem
sido denunciados, a 4-9-97; André Sousa dos Santos,
estava sentado com seu namorado na Praça da Piedade,
quando um policial à paisana começou a agredi-los e com
o auxílio de outro policial, os quais deram cinco tiros
nos dois, levando um para a 1a.Delegacia e o
outro para o Hospital Geral do Estado, sendo ainda
espancado na viatura e exigiram R$5, 00 para colocar
gasolina, a 6-10-97.
Insulto,
difamação e propaganda discriminatória
-
ARCEBISPO
DE MACEIÓ OFENDE HOMOSSEXUAIS
D.Edivaldo
Amaral, arcebispo de Maceió, declarou: “A união de
homossexuais é uma aberração. Um cachorro pode até
cheirar o outro do mesmo sexo, mas eles não tem relação.
Sem querer ofender os cachorros, acho que isso é uma
cachorrada! Esta é a opinião de Deus e da Igreja.”[O
Jornal, Maceió, 27-6-97]
-
PROFESSOR
DEFENDE EXTERMÍNIO DE HOMOSSEXUAIS
O
Diretor do Colégio Universitário da Universidade Federal
de Viçosa, Laurindo Silva, escreveu no Boletim do Colégio
que os homossexuais deveriam ser todos exterminados e
jogados dentro de uma cova e cobertos com água ráz para
não sobrar nem os ossos. [Informação prestada por um
professor da UFV, nov/97]
-
JORNALISTA
DIZ QUE GAYS SÃO REPUGNANTES
O
jornalista José Augusto Berbert, do jornal A Tarde, “o
maior do Norte e Nordeste”, que por duas vezes escreveu:
“Mantenha Salvador limpa, mate uma bicha todo dia!”,
agora declarou: “Num debate com estudantes, pediram que
eu definisse os invertidos com uma só palavra: são
repugnantes, respondi. E fui aplaudido de pé!”
Comentando o filme
Mutação, disse que “se para acabar com a Aids,
descobrissem pessoas com genes modificados e os usassem
contra os boiolas, poderia acabar com as bichas mas
provavelmente surgiria coisa ainda pior, embora seja difícil
se imaginar o que pode ser pior que os falsos-ao-corpo.”[A
Tarde, 8-7-97]
-
VEREADOR
ACUSADO DE SER GAY É DISCRIMINADO
Em
Pedrinhas, Sergipe, o vereador Irecê Messias, 31 foi vítima
de calúnia, perseguição e discriminação sexual.
Influente família local, Alves Andrade, ligada ao PFL,
fez proposta de suborno a um rapaz da cidade para manter
contato mais íntimo com o vereador a fim de descobrir
eventuais amizades homossexuais para dar publicidade ao
escândalo. Chegaram a divulgar a calúnia de que o
vereador usava a associação de moradores para fazer
reuniões de um grupo de homossexuais e praticava
prostituição infantil. [CINFORM, Aracaju, 30-6-97]
-
CARDEAL
DO RJ DIZ QUE HOMOSSEXUAIS TEM ANOMALIA
O
Cardeal-arcebispo do RJ, D. Eugênio Salles, afirmou que
”os homossexuais têm anomalia e a Igreja é contra e
será sempre contra o homossexualismo.” O Grupo 28 de
Junho, de Nova Iguaçu registrou queixa na 52a
Delegacia de Polícia de Nova Iguaçu (RJ) contra o
Arcebispo que se auto-intitula “xerox do Papa”.
[Protocolo E-09/7344/1052/97; SESP-CPB - 52o DP;
Jornal do Brasil, 10-8-97;O Dia, 1-10-97; Jornal do Grande
ABC, 2-10-97]
-
DEPUTADO
PASTOR DIZ QUE HOMOSSEXUALISMO É IMORALIDADE
O
deputado H.Takayama (PFL/PR) pastor da Assembléia de
Deus, declarou: “O homossexualismo é uma anomalia e a
Casa de Leis do Paraná não pode descer a este nível tão
baixo e aprovar esta imoralidade que por si só, é
inconstitucional e choca-se com a Constituição Maior
contida nas Sagradas Escrituras que condena tais atos de
espíritos imundos e das profundezas das trevas.” Num
cochilo da oposição, os deputados aprovaram a moção de
repúdio ao Projeto da Deputada Marta Suplicy, moção que
em dias posteriores foi rejeitada. [Folha de Londrina,
16-4-97]
-
VEREADOR
EVANGÉLICO CONSIDERA IMORAL UNIÃO CIVIL
O
vereador evangélico Paulo Emílio (PSD/Praia Grande/SP)
apresentou requerimento em repúdio ao Projeto de Parceria
Civil Registrada entre pessoas do mesmo sexo.
“Reconhecer legalmente tais uniões significará a
concordância da sociedade brasileira com situações
anormais e imorais.”[Gazeta da Praia Grande, 20-4-97]
-
VEREADORES
DE BAURU REPUDIAM UNIÃO HOMOSSEXUAL
Por
16 votos a 4, os vereadores de Bauru, SP, aprovaram a moção
de protesto ao projeto de lei sobre a parceria civil
registrada. O autor da moção, o vereador Luis Carlos
Vale (PPB) afirmou que a união de homossexuais infringe a
Lei natural da vida. [Jornal da Cidade, Bauru, 7-5-97]
-
PSIQUIATRA
DIZ QUE HOMOSSEXUALISMO É DOENÇA
O
Psiquiatra pernambucano Lamartine Holanda disse num
programa de televisão “ o homossexualismo é doença e
deve ser tratado”, em total contradição com o Conselho
Federal de Medicina que desde l985 retirou a
homossexualidade da classificação de doenças. [Jornal
do Commércio, 16-3-97]
-
PARTIDO
CRISTÃO FAZ MANIFESTO CONTRA UNIÃO HOMOSSEXUAL
O
Presidente do Partido Progressista Cristão, Eurípides
Farias, no Manifesto do PPC, declarou que “casamento de
macho com macho é semente de satanás!” [Correio
Brasiliense, 28-3-97]
Contra
a liberdade de movimento, associação e trabalho
-
PM
PRENDE CABO QUE NAMORAVA GAY
Agentes
policiais da ROTA prenderam em Campo Belo, zona sul de SP,
o cabo Eduardo Aparecido Teixeira, do 12o
Batalhão da PM, e o Ajudante geral Francisco dos Santos
Limeira, ambos de 30 anos, após um morador do local ter
denunciado à polícia que os dois trocavam carícias na
rua. Ambos foram detidos pela Rota 09106 e levados ao 27o
Distrito, Ibirapuera, onde a delegada registrou ocorrência,
obrigando os dois a se apresentar em juízo. [Diário
Popular, 15-10-97]
-
TRAVESTI
É IMPEDIDA DE ANUNCIAR NO JORNAL A TARDE
A
Travesti Lena Oxxa, atual coordenadora da Associação de
Travestis de Salvador, foi impedida de anunciar na coluna
de “encontros” do jornal A Tarde, sob alegação de
que uma Circular Interna da Redação proibiu qualquer anúncio
que caracterizasse relações homossexuais. [Queixa
registrada na 1a Delegacia de Polícia de
Salvador, 29-12-97]
-
GAYS
SÃO EXPULSOS DE BAR
André
Vítor e um grupo de homossexuais da cidade Balneário
Camboriú, SC, foram obrigados a retirar-se de uma boate
na cidade “para evitar que esse espaço se tornasse
conhecido como boate gay”. [Revista Sui Generis, n.21,
1997]
-
BANCOS
DISCRIMINAM GAYS
O
bancário A., 49 anos, de Campinas, SP, declarou que a
chefia do banco nunca aceitou sua homossexualidade. Apesar
de excelente funcionário, nunca foi promovido, sendo-lhe
proibido atuar no atendimento ao público por considerarem
seu comportamento efeminado. O Sindicato dos Bancários de
Campinas recebeu proposta para que os casais homossexuais
sejam beneficiados com os mesmos direitos dos casais
heterossexuais. Segundo o Advogado do Sindicato dos Bancário
de Campinas, Eduardo S. Matias, o Sindicato teve de
interferir no caso de um gay que estava sendo ameaçado de
demissão por pintar as unhas e ter comportamento afetado.
[Correio Popular, 14-9-97]
-
QUARENTA
DETIDOS EM SAUNA GAY EM SÃO PAULO
A
Polícia Civil de S.Paulo, distrito de Perdizes, invadiu
uma sauna gay à Rua Doutor Cândido Espinheira, 758,
neste mesmo bairro, seqüestrando vídeos, lubrificantes e
outros objetos eróticos. Apenas um rapaz de programa
presente tinha antecedentes criminais. A maioria dos
presentes eram casados. [O Estado de S.Paulo, 13-3-97]
-
VIGILANTE
É DEMITIDO POR SER HOMOSSEXUAL
O
vigilante Carlos Augusto Félix, 32 anos, foi demitido da
Empresa Brasileira de Segurança de Curitiba, por ser
homossexual e portador de HIV. Entrou na justiça e
conseguiu uma indenização de R$7 mil: “Foi uma vitória
parcial pois eu merecia muito mais pela humilhação que
passei.” Ele pretendia receber no mínimo 30 mil. O
Diretor da empresa declarou: “Fora do trabalho ele
poderia fazer o que quiser com seu corpo, até colocar o
revólver e o coldre lá”. [Folha de Londrina, 5-8-97]
-
GAYS
PAGAM PEDÁGIO EM MACEIÓ PARA NÃO MORRER
Segundo
denúncias do Presidente do Grupo Gay de Alagoas, Marcelo
Nascimento, Policiais Civis estão cobrando R$10, 00 dos
homossexuais que freqüentam a Av. Duque de Caxias e Praia
do Sobral, sofrendo violentas surras e prisão com algemas
os que recusam pagar. Policiais usam carros particulares
para a realização das blitz. O Presidente do GGA
denuncia que as representações enviadas à Secretaria de
Segurança Pública não são atendidas. [Gazeta de
Alagoas, 22-6-97]
-
POLICIAIS
EXPULSAM CASAL GAY DE PARQUE EM BELO HORIZONTE
Dois
homossexuais dirigiram-se ao PROCOM-BH para reclamar dos
policiais que tomam conta do Parque Municipal mandaram-nos
se retirar do Parque simplesmente por serem gays e estarem
conversando em local isolado. [Hoje em Dia, 3-5-97]
-
SEGURANÇA
IMPEDE GAY DE ENTRAR NA PRÓPRIA CASA
Em
Salvador, no Conjunto Sussuarana, Bloco I, o homossexual
Roque da Silva, 35 anos, comerciário, foi impedido de
entrar em sua própria casa e ameaçado com arma em punho
por um segurança do condomínio, por estar acompanhado de
outro gay. [Registro de queixa de Discriminação
Anti-Homossexual, Arquivo do GGB, 30-4-97]
-
HOMOSSEXUAIS
SÃO OS MAIS DISCRIMINADOS NO TRABALHO
Segundo
denúncia da TV-Globo, em Pernambuco, os homossexuais são
as maiores vítimas da discriminação entre candidatos em
exames de seleção para empregos. Em Belo Horizonte,
segundo a Consultora em Recursos Humanos, Elizete Araújo,
pesquisa realizada em l994 comprova que mais de 20% das
empresas não contratam homens solteiros acima de 35 anos
- “uma objeção velada contra o homossexual”. [Jornal
Nacional, TV-Globo, 21-4-97; Estado de Minas, 5-10-97]
-
GAYS
HUMILHADOS EM BOATE NA BAIXADA FLUMINENSE
Aos
4 de agosto de l997, vários policiais civis e militares
invadiram a boate gay Por
Opção, em
Duque de Caxias, Baixada Fluminense e levaram detidos 102
homossexuais, obrigando alguns dos presentes a fazer sexo
oral com os policiais. Os freqüentadores foram forçados
a sair para a rua de mãos dadas, sob uma sessão de
piadinhas e xingamentos.” [O Globo, 21-9-97]
-
MILITANTE
GAY É DISCRIMINADO EM SELEÇÃO PROFISSIONAL
Paulo
César Vieira, 36 anos, costureiro, militante do Grupo 28
de Junho, ao se inscrever num emprego para a vaga de
costureiro na Firma
Babbo Modas, R.Carolina Machado 258, Madureira, RJ, ao
chegar sua vez de ser atendido, o gerente da firma falou
na frente de todos presentes: “Agora você saia da fila
porque não admitimos pessoas da sua espécie.” [Denúncia
enviada ao Arquivo do GGB por Eugênio Ibiapino, do Grupo
28 de Junho de Nova Iguaçu, RJ, 10-9-1997]
Assassinato de
homossexuais no Brasil - 1997
Conforme
antecipamos, o Brasil é o campeão mundial de
assassinatos de homossexuais. O Grupo Gay da Bahia dispõe
de um dossier onde estão documentados 1600 homicídios
contra gays, lésbicas e travestis no Brasil entre
1980-1997. Para 1997 dispomos de informação documentada
de terem sido assassinados 130 homossexuais em nosso país
– um aumento de 4 casos em relação a 1996. Tais números
certamente são inferiores à realidade, pois não cobrem
todo o território nacional, faltando, p.ex., dados sobre
o Maranhão, Piauí, Paraíba, Espírito Santo e outros
estados da região norte. Manteve-se a mesma trágica média:
a cada 3 dias é assassinado um homossexual no Brasil,
destacando-se nesta listra macabra os estados de S.Paulo,
Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas.
Homossexuais
Assassinados no Brasil (1997)
|
ESTADO
|
GAY
|
LÉSBICA
|
TRAVESTI
|
TOTAL
|
Alagoas
|
3
|
1
|
7
|
11
|
Amazonas
|
4
|
-
|
1
|
5
|
Bahia
|
11
|
-
|
1
|
12
|
Ceará
|
4
|
-
|
-
|
4
|
Distrito
Federal
|
4
|
-
|
-
|
4
|
Goiás
|
5
|
-
|
-
|
5
|
Minas
Gerais
|
2
|
-
|
2
|
4
|
Mato
Grosso
|
-
|
-
|
1
|
1
|
Pernambuco
|
7
|
-
|
2
|
9
|
Pará
|
3
|
-
|
1
|
4
|
Paraná
|
6
|
-
|
3
|
9
|
Rio
de Janeiro
|
12
|
5
|
3
|
20
|
Rio
Grande do Norte
|
1
|
-
|
-
|
1
|
Rio
Grande do Sul
|
4
|
-
|
-
|
4
|
Santa
Catarina
|
|
-
|
1
|
1
|
Sergipe
|
2
|
-
|
3
|
5
|
São
Paulo
|
14
|
-
|
17
|
31
|
TOTAL
|
82
|
6
|
42
|
130
|
Quanto
à orientação
sexual das vítimas, nota-se que as lésbicas
representam o grupo menos atingido pelos homicídios -
diferentemente do que acontece na sociedade
global-heterossexual, onde as mulheres são as principais
vítimas de violência física e morte. A menor visibilidade e o
estilo de vida mais recatado da subcultura lésbica, expõe-nas
menos a situações de risco - exatamente o contrário do
que ocorre com as
travestis, que por viverem em ambientes mais
violentos, como são as pistas onde fazem trottoir,
tornam-se alvo mais fácil de tais crimes.
Proporcionalmente as travestis são as principais vítimas
dos homicídios homofóbicos pois representando
nacionalmente número inferior a 8 mil indivíduos,
chegaram a 40 as travestis assassinadas em 1997 - enquanto
foram 80 gays assassinados, para uma população estimada
em mais de 16 milhões indivíduos.
Quanto
à idade das vítimas, o mais jovem homossexual
assassinado tinha 15 anos e o mais velho, 85, sendo que 5%
deles eram menores de idade. A faixa etária mais vitimada
está entre os 25-35 anos - 31%. A idéia de que são
sobretudo os homossexuais mais velhos as vítimas mais
constantes de tais homicídios é falsa pois 86% dos
mortos tinha menos de 50 anos.
Os
homossexuais assassinados ocupavam mais de trinta profissões
diferentes, de rico empresário a mendigo - o que comprova
a presença da homossexualidade em todas as classes
sociais. 28% das vítimas eram profissionais liberais ou
funcionários públicos, seguidos de 19% de gays que
viviam da prestação de serviços: autônomos, garçons,
secretários, etc. Embora via de regra mais de 90% das
travestis no Brasil sejam profissionais do sexo, somente
em 7 casos a notícia do jornal indicava tal ocupação.
Seis dos mortos eram cabeleireiros, categoria portanto
muito exposta à criminalidade homofóbica. Apesar das
religiões cristãs condenarem a homossexualidade e as
religiões afro-brasileiras se posicionarem de maneira hipócrita
em relação à esta questão, entre as vítimas, seis
ministros religiosos, dos quais, dois pais-de-santo. Entre
as lésbicas, destaque para uma Vereadora de Sergipe, vítima
do ciúme assassino de seu marido.
41%
dos crimes foram praticados com arma de fogo - o que torna
tais ocorrências mais graves, pois o assassino andava
armado e em muitos casos houve premeditação do delito.
28% destes homossexuais morreram vítimas de objetos
perfuro-cortantes: facas, peixeiras, facões, garrafas
quebradas e cacos de vidro, machados. 15% das mortes foram
decorrentes de múltiplas causas: tortura, espancamento,
asfixia, mutilações, pedradas, pauladas, coronhadas. 9
gays foram estrangulados e um teve sua cabeça decepada.
Tais crimes de ódio caracterizam-se pela extrema violência,
seja pelo grande número de golpes desferidos contra a vítima,
pela crueldade do ferimento, seja pelo concurso de
diversos modos de violência. Por trás de muitos destes
crimes, mais do que a simples motivação de matar para
roubar (latrocínio), ou “queima de arquivo” (para
impedir de ser denunciado pela vítima), evidencia-se
claramente a conotação homofóbica da agressão, o
imenso ódio que o “machão” tem do “viado”, seja
porque o considera “descarado”, um traidor da
categoria dos machos, portanto merecedor de violência e
morte, seja porque assumiu práticas sexuais e um estilo
de vida que o machão gostaria de assumir mas que pela
homofobia internalizada, reprime e desconta na “bicha”
toda sua frustração de homossexual mal-resolvido. Na
maioria dos casos o assassino manteve prévia relação
sexual com a vítima - e não raras vezes, assumiu a posição
passiva no ato homoerótico.
Infelizmente
as notícias dos periódicos sobre os autores de homicídios
contra homossexuais são raras e lacunosas. Menos de 30%
dos criminosos são identificados quando do assassinato,
daí a dificuldade - acrescida da má vontade da polícia
- em identificar os responsáveis por tais crimes.
Aproximadamente
20% dos autores destes homicídios eram menores de idade -
e mataram não para se defender do assédio sexual de
parceiros mais velhos, mas por estarem imbuídos da
ideologia machista que repete: “viado tem mais é que
morrer!” O mais jovem assassino tinha 14 anos! O desdém
e agressividade como meninos de rua costumam tratar os
homossexuais quando cruzam seus caminhos, revela o grau de
desprezo com que a juventude se relaciona com a
homossexualidade, daí 9 destes assassinos estarem na
faixa entre 14-17 anos.
Quase
a metade destes assassinos tinham de 18 a 24 anos quando
mataram algum homossexual (48%). Tão alta freqüência de
delinqüência juvenil explica-se de um lado pela preferência
de muitos gays por rapazes mais jovens, mas maiores de
idade, por outro lado, pela maior curiosidade e atividade
sexual dos adolescentes após os 18 anos, que munidos de
sua carteira de identidade, sentem-se compelidos a
explorar novos espaços e experiências relacionais.
Recomendações
Lastimavelmente,
ao término deste relato, somos obrigados a concluir que
é muito preocupante a situação de insegurança dos
gays, lésbicas e travestis no Brasil contemporâneo e
extremamente grave a violação de seus direitos humanos.
Apesar de nos últimos anos notar-se uma maior
visibilidade dos homossexuais e um crescimento e
diversificação dos grupos de defesa de seus direitos de
cidadania, observa-se um aumento quantitativo e
qualitativo da homofobia no país: na última década o número
de assassinatos de gays e travestis aumentou
assustadoramente; os assassinatos homofóbicos tornam-se
cada vez mais violentos e sádicos; a epidemia Aids,
identificada como peste
gay, provocou ameaçador incremento do preconceito;
novos casos de acintosa discriminação vêm ocorrendo em
todo o território nacional; lideranças católicas e
protestantes tornam-se mais e mais intolerantes e
opositoras aos direitos de cidadania dos homossexuais. Um
recente exemplo da gravidade da homofobia no país ocorreu
quando o autor destas linhas divulgou na imprensa cinco
hipóteses de que o ex-escravo e herói negro Zumbi dos
Palmares, cujo tricentenário foi comemorado em 1995,
provavelmente era homossexual: tal revelação desencadeou
uma série de protestos por parte de lideranças negras,
acusando de racista a possibilidade de um herói guerreiro
ser gay, negando a homossexualidade na África, e
culminando com um atentado de vandalismo contra a residência
e o carro do Presidente do Grupo Gay da Bahia. Tal episódio
revelou que mesmo em segmentos sociais onde
tradicionalmente se observava maior tolerância às práticas
homossexuais - como entre a população negra, adepta do
Candomblé, religião liderada por incontáveis sacerdotes
e sacerdotisas praticantes do “amor que não ousa dizer
o nome” e que conta em seu panteão deuses e deusas
“hermafroditas”, metade do ano homens, a outra metade,
mulheres - não obstante, foram exatamente grupos negros
da Bahia os que reagiram mais violentamente contra a idéia
de um herói negro-gay.
Este
quadro tão negativo e preocupante tem uma positiva
contrapartida: o recente incremento do Movimento
Homossexual no Brasil, que desde janeiro de l995
institucionalizou-se ainda mais através da fundação da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis, quando da
realização em Curitiba do 7º Encontro Nacional da
entidade. Além dos gays e lésbicas, já agrupados desde
os finais dos anos 70, fundaram-se recentemente novos
grupos de travestis e nosso primeiro grupo de transexuais.
Se a Aids, de um lado, aumentou o estigma anti-gay, esta
epidemia trouxe em seu bojo um fator positivo:
proporcionou uma maior visibilidade para os homossexuais,
que de temidos membros de “grupo de risco”, tornam-se,
através dos grupos gays, não apenas as primeiras ONGs a
iniciar a prevenção desta doença, mas também os
principais colaboradores do poder público na prevenção
da epidemia. Hoje quase uma dezena de grupos homossexuais
desenvolvem importantes projetos de prevenção
financiados pelo Ministério da Saúde através de
parceria com o Banco Mundial.
Com
vistas a diminuir e erradicar a homofobia que tão
generalizada e cruelmente grassa em todo nosso meio, o
Movimento Homossexual Brasileiro propõe algumas ações
governamentais, que à imitação das propostas para
outras minorias sociais, visam implementar e salvaguardar
os direitos humanos e de cidadania das minorias sexuais.
Ações Governamentais em
Defesa dos Direitos Humanos das Minorias Sexuais
Ações
Governamentais a curto prazo
1.
Adotar mecanismos de coleta e divulgação de
informações sobre a situação sócio-demográfica dos
homossexuais e o problema da violência anti-homossexual;
2.
Proteger os homossexuais contra agressões e
divulgação de idéias discriminatórias, seja pela
imprensa, igrejas ou quaisquer outros meios de divulgação
e informação;
3.
Proceder a emenda da Constituição Federal
alterando os Artigos 3 e 7 para a incluir a proibição da
discriminação por orientação
sexual;
4.
Garantir aos homossexuais a plena capacidade jurídica
de assumir cargos em órgãos públicos, civis, militares
e no setor privado;
5.
Implementar um programa nacional de prevenção à
violência contra os gays, lésbicas e travestis,
obrigando-se que nas estatísticas policiais haja sempre
referência específica aos crimes perpetrados em razão
da orientação sexual das vítimas;
6.
Propor a criação de uma Fundação ou Secretaria
de Governo dirigida aos homossexuais, do mesmo modo como
existem para as mulheres, negros e índios;
7.
Apoiar a regulamentação da Parceria Civil
Registrada entre pessoas do mesmo sexo, projeto em tramitação
no Congresso através do projeto de lei n.1151/95;
8.
Incentivar programas de orientação familiar e
escolar com o objetivo de capacitar as famílias e
professores no sentido de conferir às crianças e jovens
homossexuais, o respeito à sua livre orientação sexual,
prevenindo atitudes hostis e violentas inclusive o uso
abusivo de terapias corretivas;
9.
Incluir em todos os censos demográficos e
pesquisas oficiais do governo, quesitos relativos à
orientação sexual dos brasileiros;
10.
Incluir em todos documentos oficiais e Programas de
Direitos Humanos, a defesa da livre orientação sexual e
da cidadania dos homossexuais, ao lado das demais minorias
discriminadas;
11.
Apoiar a produção e publicação de documentos
científicos que contribuam para a divulgação de informações
corretas e anti-discriminatórias contra os gays, lésbicas
e travestis;
12.
Estimular que os livros didáticos enfatizem que
muitos personagens históricos célebres foram praticantes
da homossexualidade, eliminando os estereótipos negativos
contra esta minoria sexual.
Ações
Governamentais a médio prazo
1.
Capacitar profissionais de educação para
promoverem em todos os níveis escolares e nos meios de
comunicação, a consciência ética da tolerância das
diferenças individuais, através da destruição do
estereótipo depreciativo dos homossexuais;
2.
Promover o reconhecimento, apoio e defesa do
homossexual dentro dos diversos grupos sociais;
3.
Promover campanhas contra a discriminação (homofobia)
e incentivo do reconhecimento das diferenças individuais
nos meios de comunicação de alcance nacional;
4.
Promover campanha junto aos profissionais da saúde
para o esclarecimento relativo aos conceitos científicos
e éticos ligados à homossexualidade.
Ações
Governamentais a longo prazo
1.
Incentivar ações que contribuam para a preservação
da memória e fomento `a produção cultural e ao resgate
da história da comunidade homossexual no Brasil;
2.
Formular políticas compensatórias que promovam
social e economicamente a comunidade homossexual, e que
acompanhem os direitos e garantias conseguidos pelas
demais minorias sociais;
3.
Apoiar a criação de varas, promotorias e
delegacias especializadas em crimes envolvendo os
homossexuais como vítimas da homofobia.
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