
Entrevista
do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-diretor do Instituto de
Pesquisa em Relações Internacionais (Ipri) do Itamaraty, concedida ao
jornal O Globo - "Com a Alca, empresas disciplinarão o
Estado"
24 de abril
de 2001
Samuel Pinheiro Guimarães
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
prevê que a Alca beneficiará apenas os Estados Unidos e diz que o
governo brasileiro deveria suspender as negociações "antes que
seja tarde". Para ele, o acordo vai além das tarifas alfandegárias,
e o Estado passaria a estar subordinado às empresas.
Como o senhor analisa o desfecho da
terceira Cúpula das Américas?
PINHEIRO GUIMARÃES: A posição da Venezuela (que assinou o documento
final com ressalvas quanto ao prazo para implantação da Alca) foi
importante para mostrar que não há consenso. Como saber se 2005 é o
ideal?
Quais os riscos da Alca para o
Brasil?
GUIMARÃES: O acordo envolve po??
líticas comercial, industrial e
tecnológica, atuação do governo na economia, regulamentação de
capital estrangeiro e relação entre multinacionais e o Estado. O
Estado estará subordinado às empresas estrangeiras, que podem acioná-lo
sempre que se considerarem prejudicadas.
As regras não podem ser negociadas?
GUIMARÃES: É uma negociação entre carrasco e vítima. O
carrasco diz que vai cortá-la em cinco pedaços, e a vítima pede dez.
Mas no fundo não chegam à essência do processo. Os Estados Unidos só
querem discutir os pontos favoráveis a eles. Isso levaria à incorporação
assimétrica ao sistema comandado por eles.
Como o governo deve tratar a Alca?
GUIMARÃES: O governo não foi autorizado pela sociedade sequer a
negociar a participação na Alca. O Brasil deveria suspender
imediatamente as negociações. Depois de participar das várias etapas,
será mais difícil. É melhor suspender a negociação antes que seja
tarde.
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