
Mensagem
ao Papa
Antonin Artaud
Não és tu o
confessionário, oh Papa! Somos nós; compreende-nos, e que os
católicos nos compreendam.
Em nome da Pátria, em
nome da Família, incentivas a venda das almas e a livre trituração
dos corpos.
Entre nossa alma e nós
mesmos, temos que percorrer muitos caminhos, que venham a interpor se
teus vacilantes sacerdotes e esse acumulo de aventuradas doutrinas com
que se nutrem todos os castrados do liberalismo mundial. A teu deus
católico e cristão que como os outros deuses concebeu todo o mal )2
ptos(
1. Tu o meteste no bolso.
2. Nada temos que fazer
com teus cânones, índex, pecados, confessionários, clerigalham.
Pensamos em outra guerra,
uma guerra contra ti, Papa, cachorro.
Aqui o espirito se
confessa ao espirito. Da cabeça aos pés de tua farsa romana, o ódio
triunfa sobre as verdades imediatas da alma, sobre essas chamas que
consomem o próprio espirito. Não ha Deus, Bíblia ou Evangelho, ano ha
palavras que detenham ao espirito. Não estamos no mundo. Oh Papa
confinado no mundo! Nem a terra, nem Deus falam de ti.
O mundo e o abismo da
alma! Papa aleijado, Papa alheio a alma. Deixa nos nadar em nossos
corpos, deixa nossas almas em nossas almas. Não necessitamos de tua
espada de claridades.
ARTAUD, Antonin. Cartas aos
Poderes. Porto Alegre: Editorial Villa
Martha, 1979. (Coleção Surrealistas - Vol. 1) |