
Educação
Constata-se
com pesar, que cerca de 1/3 da população brasileira hoje é constituída
por analfabetos, e pelo menos outro tanto, é formalmente considerada
como sendo de “analfabetos funcionais”, ou seja, de pessoas que
mal sabem desenhar o próprio nome.
A
situação se agrava quando se compara os números relativos à
quantidade de tempo dedicado ao estudo em sala de aula por habitante
no âmbito geográfico da América do Sul: o Brasil é o último
colocado, com a média de 2,5 anos de escola cursados por pessoa em
toda sua vida, ou seja, a metade da quantidade obtida pelo vizinho
Paraguai.
Desfilar
os números do absurdo que é a tragédia da educação no Brasil, em
quase nada afetaria a simples observação cotidiana. O que se vê é
um pais de letrados, de famélicos culturais, de milhões de pessoas
que jamais tiveram a oportunidade de ler um único livro sequer.
“A
educação, como qualquer instituição de uma sociedade de classes,
determina-se, em última instância, por estruturas de classe. Neste
sentido, a educação atende â duas exigências centrais da classe
dominante: gera uma mão-de-obra mais ou menos qualificada e barata,
e, inculca a ideologia capitalista, pesando ambos a reprodução do
sistema.”
(Remy
Fontana - A Educação e os Direitos Humanos in Direitos Humanos -
Estudos e Debates)
Escravizadas
pela ignorância e submetidas pelas palavras e imagens veiculadas
pelos meios de comunicação, assim destituídas de capacidade crítica
para enfrentar a enxurrada de valores que lhes são continuamente
disponibilizados, as pessoas agonizam sem respostas às exigências
impostas pelos problemas sociais que se avolumam em tempos de frio e
insensível neoliberalismo.
Tal
situação se agrava, principalmente quando se trata da juventude, que
tem quase sempre como característica, a internalização de valores
de maneira geralmente acrítica
“Só
a crítica profunda, radical, é transformadora da realidade. Só o
compromisso com a transformação da sociedade pode revolucionar o
conhecimento.”
(Remy
Fontana - A Educação e os Direitos Humanos in Direitos Humanos —
Estudos e Debates)
Carece
aqui diferenciar a mídia — que muitos vêm como sendo o primeiro
transgressor da sociedade de direitos — vista como indústria de
entretenimento, descomprometida e desinteressada na capacidade de
produção de discernimento com vistas a formação de uma opinião pública
racional, da atividade jornalística propriamente dita. Enquanto a
primeira é eminentemente comercial, exercida e/ou amparada por
poderosos conglomerados financeiros mais preocupados com a manipulação
da opinião pública a favor dos seus próprios valores e interesses,
a segunda. constituída pela gloriosa classe dos jornalistas, que
subsiste como intima parte da primeira, se constituindo em parcela de
profissionais quase sempre utilizada pela indústria com a simples
finalidade de lhe conferir sustentação ética.
“Muita
gente está acordando para o fato que se a imprensa – como querem
alguns – ainda é o quarto poder, ela deve explicações para o
sujeito e objeto do seu fim: o cidadão. Tem que ser um poder cujos
limites vão até a ética, o respeito à privacidade das pessoas, a
preservação dos inocentes, a publicação da verdade e a boa fé de
quem divulga informações. -
(Heródoto
Barbeiro - Cidadania e Jornalismo)
Na
realidade, trata-se de um jogo de disputa pelo poder, exercido através
da formação da opinião pública com a confecção de uma agenda pública
direcionada para determinados interesses, onde o “privado” usufrui
do “público” com vistas ao domínio intelectual das massas.
Não
é por mero acaso que, no Brasil, a quase totalidade das concessões
de canais de televisão gentilmente ofertadas pelo Estado, contemplam
apenas nove famílias controladoras do sistema. As demais foram
concedidos a pessoas influentes, geralmente políticos de algum modo
vinculados ao Governo. Também não é por simples coincidência que
as universidades, as associações comunitárias e de bairro etc., são
frequentemente impedidas de divulgar suas propostas através de
emissoras de rádio próprias, ditas clandestinas, não raro havendo
interrupção forçada da transmissão, confisco do material e prisão
de seus operadores.
Apesar
disso, rara unanimidade nacional aponta sempre a educação do povo
como sendo o início de tudo, o fundamento para todos os projetos e
propostas, a base para a (re)construção de um país verdadeiramente
livre, soberano e independente.
“Quanto
mais crítico um grupo humano, tanto mais democrático e permeável,
em regra. Tanto mais democrático, quanto mais ligado às condições
de sua circunstância. Tanto menos experiências democráticas que
exigem dele o conhecimento crítico de sua realidade, pela participação
nela, pela sua intimidade com ela, quanto mais superposto a essa
realidade e inclinado a formas ingênuas de encará-la. As formas ingênuas
de perceber a sua realidade. As formas verbosas de representá-la.
Quanto menos criticidade em nós, tanto mais ingenuamente tratamos os
problemas e discutimos superficialmente os assuntos.”
(Paulo
Freire – Educação como Prática da Liberdade)
Antes
de mais nada, se faz necessário entender que a educação nos termos
mencionados não se resume simplesmente àquela que é formalmente
ministrada nas escolas, que é insubstituível, mas principalmente uma
outra, forjada no dia a dia, nas casas e nas ruas, cuja
responsabilidade maior recai não apenas sobre os agentes do Estado,
mas inclui todo cidadão. Um gesto, uma palavra, mas principalmente o
exemplo, é o maior gerador de educação cívica, de cidadania, que o
Pais tanto necessita,
É
preciso ter sempre em mente que nesse exato momento se está
construindo a nação em que viverão os nossos filhos, netos e
bisnetos, além das subsequentes gerações, portanto, essa
responsabilidade e esse privilégio devem ser partihados por todos
indistintamente.
Pare e
Reflita 5
Quais
são, no seu entender, os principais pontos de estrangulamento no
processo educacional brasileiro?